quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Coca-cola e biscoito de morango.

Saindo de casa pra sair de mim. Fui dar uma volta, esperanças de sair da minha cabeça. Tudo é furada, não tem praonde ir e o que eu quero nem deve existir. Parei no mercado, comprei uns biscoitos de morango e uma coca-cola.
Cansei de inexistir, talvez esteja pronta para desistir. Não que isso fosse fazer qualquer diferença. Chega novamente a hora de tomar decisões e eu temo que elas talvez já tenham sido tomadas. Agora não há nada a se fazer, além de fazer.
Chegou a hora de fazer, pensar, notar, escrever, construir e realizar.
Ou talvez só de dar uma fugida e quem sabe espairecer um pouco.
Já é quase natal, e portanto quase ano novo, e eu não sinto a menor vontade de celebrar coisa alguma. Se é que um dia eu já senti vontade de comemorar natal e ano novo, considerando meu inferno astral.
Vai ver é só cansaço. Preciso de um colo, de uma mão amiga, de uma fugida.
E mais que qualquer outra coisa ando precisando redescobrir meu potencial.
Voltei pra casa, quando não devia ter voltado. Espera ter traduzido qualquer coisa ruim em qualquer coisa boa, mas dos meus pensamentos só emanava raiva.

Pelo menos pra todos os efeitos ainda tenho a coca-cola e o biscoito de morango.


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Confúcio já dizia...

Ou Nietzche, quem sabe Platão...

Confundo dia, confundo ano. Confundo gente, confundo plano. Confundo idéia, confundo casa.
Se é horário de verão eu confundo até a hora. Confundo nome, confundo estação, confundo o carro, confundo telefone e endereço. Já confundi bem com mais-ou-menos e mais-ou-menos com ruim. Já confundi mês, já confundi coração, já confundi até jargão. Já vi, vim e não venci. Já confundi Nosferatu com Nostradamus, batata com macaxeira. Já confundi balaio com balaiagem, com balão e com balada. Confundi macaxeira com aipim com mandioca, e olha que é tudo a mesma coisa. Já confundi carne seca com carne de sol, e ainda confundo. Não sei se vai dar tempo, nem sei se vai dar pra fazer. Não sei se está perto da hora, nem sei como surpreender. Não sei se acabo, ou começo, ou deixo pra lá. Descaso, descasco, desamasso, desprendo, desaprendo, desapego, desapreço, desapareço. Confundo morte com sorte, com azar com amar. Confundo amor e carinho e aninho, e sapinho. Confundo azedo e amargo. Confundo colega com amigo, e amigo com família. Confundo história. Confundo glória. Confundo riso em lágrima e lágrima em riso. Confundo bonito e feio e brega e legal. Confundo pensamento. Confundo pensador.

No meu quarto

No meu quarto tem um quadro de mim e três telas minhas. Tem vidrinhos de boticário, um abajur de lava, uma escultura de uma escultorinha, milhares de cubos de papel cartão, e um puff de cubo mágico. Tem dois aparelhos de som que eu nem uso mais. Tem uma máscara africana de madeira, porta-pesos e uma bomboniere de abelhinha. No meu quarto tem a coleção de isqueiros, de chaveiros, de cofrinhos. Tem até um cemitério de lápis. Tem um hipopótamo rosa que usa óculos 3D e um burrinho saindo de um porta retrato. Uma calculadora de MM's, um bebê do Shrek, livros bons, bobos, e um monte de caderninhos espalhados. No meu quarto tem cataventos , carrosséis e gaiolas, de todas as formas cores e sabores. Filmes que eu já vi, e que ainda vou ver. Pincéis e pôsteres. Uma lhama com pelos de lhama de verdade. Tem as paredes vermelhas, combinando com o tapete meio felpudo. Tem muito papel panamá e outros papéis que eu nunca sei se vou usar. E persianas onde toda noite vários besourinhos resolvem atrapalhar meu sono. Colírios, panfletos, um porta retrato sem nenhum retrato dentro. Um beija-flor pendurado na lâmpada, bichinhos de papel machê, um macaco no espelho, um livrinho de madeira. Tem uma garrafa de solvente no chão e uma adega de tinta à óleo. Caixas coloridas, um cavalete, um telefone laranja e uma gaita. Giz de cor, lápis aquarela, lapis de olho, giz pastel e mais. Tem um ou dois esconderijos secretos. Tem três sapos, uma janela e uma aquarela. Fones de ouvido, fio de naylon e papel de carta.

É isso que tem no meu quarto. Além da cama, do guarda-roupa e da televisão, é claro.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Pedaços de alguma outra coisa.

A excessão sempre me faz pensar na regra.

Acho que hj ouvi uma cigarra cantar. a chuva estaria de uma vez por todas a chegar?

A maioria das pessoas, quando discordam de algo, discordam pelos mesmos motivos; digo: o motivo de uma e outra pessoa desgostarem de uma coisa, sempre será o mesmo. O que te leva a saber se a pessoa sabe ou não do que está falando é se o motivo dela é diferente, e válido. Mas não é regra. Talvez a coisa só seja odiosa por esse único motivo de que todos falam. Mas as vezes o motivo dela ser odiosa a torna não odiosa, por torná-la especial. Dissertando a respeito do nada e pensamentos de chuveiro.

E acordou mais uma vez a menina, os olhos inchados, a vontade de não fazer nada. deitada na cama por dias e dias, nem levantar mais ela conseguia. depois de uma noite chorada, é costume acordar inchada. nada dá certo, não vontade de fazer nada. tudo desaba num piscar de olhos, e todo aquele drama volta a tona. Ela só queria que soubessem. Mas como poderiam. Drama e melancolia sempre vem e vão e nunca tem hora pra chegar.

Odeio as férias. Odeio ficar sem fazer nada. E de repente tudo que eu faço nem faz mais sentido algum. Meu mapa astral me chamou de instável. Por que fazer qualquer coisa?

Toda discussão é válida. Nunca deixei de dizer isso, e eu aprendo bastante com elas, pois se não se pode aprender com a experiência dos outros... Ensinar é o sentido da vida, tanto quanto aprender e só assim a gente aprende e vive, e ensina, é só vivendo. O que não acho válido é cuspir melancolias na cara uns dos outros, querer quebrar sentidos que uma pessoa dá a uma coisa, sem ter pleno entendimento tanto da coisa quanto da pessoa. E nem disso eu já não reclamo tanto pois foi assim, pela duvida de outros que eu passei a afirmar concretamente muitas coisas sobre mim mesma, para mim mesma. Mas são férias, e férias são férias. Todos temos, ou no mínimo devíamos ter um tempo para descansar de nós mesmos. Fique aqui claro, que eu não rejeito discussões por sua complexidade, as vezes sim, mas pela falta dela. O meu problema não é com a complexidade das discussões, mas pela falta de realidade destas. O que eu gosto mesmo é de trazer as discussões por terra, como disse um amigo recente. E eu não busco respostas, eu busco as perguntas.

Ócio não faz bem. Você se entope de coisas a fazer e acaba não fazendo nada. Então você se culpa por não ter feito as coisas que disse que ia fazer, e nisso você já começa a se sentir mal. Mas aí se surge a oportunidade de colocar as coisas em prática você pensa: daqui a pouco eu vou, e então surge mais uma outra coisa e você deixa de ir. Entrando novamente num ciclo vicioso.

Entre os maiores medos estava o de ser comum, o de ser mais um. Mas mesmo assim todo dia ela lutava arduamente pra passar despercebida. A regra me faz pensar na excessão.

Ainda ama as pessoas que já amou. Mas as pessoas não são mais aquelas e de repente tudo mudou de novo.

Estava feliz e calma e despreocupada. Então qual era o problema? As vezes é interessante perceber como cada vez que uma coisa dá errado, em uma área, acaba por afetar todas as outras. Mas até que eu consigo deixar tudo bem separado.

O que ainda a mantinha, menina, era a insegurança. Batia sentimentos de querer ser igual. Será que a cabeça de todo mundo é tão complicada quanto a minha? Instável, as vezes não sabe o que quer, e as vezes sabe bem até demais. Medo de corroer os outros ao se corroer. Queria saber se todo mundo funciona igual, se tem dias e dias. Dias bons e dias não tão bons. Se a eternidade também não lhe convém.

Sou cega e minhas lembranças são todas negras. Não abro os olhos, que as vezes gosto de saber como é viver sem eles. Ao longo da vida a gente tem que aprender na prática que beleza não é estética, beleza está além disso.

A mágica se encontra fora da nossa existência maquinal, em tudo aquilo que deixa de fazer sentido. A gente tem motivação para comer, beber, dormir, se exercitar, mas a beleza da vida está no inexplicável. Nas entrelinhas da existência sem sentido. Em perguntas como: por que trazer um filho para esse mundo, ou porque se relacionar com outras pessoas.

Precisamos de dias ordinários para termos dias especiais.

As vezes vejo como sou otimista. Gosto de pessoas esperançosas, e não suporto gente que odeia tudo. Odeio a idolatrização do final de semana. Posso jurar de pés juntos que já tive muitas segundas feiras bem melhores que sábados ou sextas. Isso é coisa só de quem odeia trabalhar, mas trabalhar realmente me faz uma pessoa melhor, embora muitas vezes eu entre em crises de arte para quê. Não dá pra viver sem ela.

E como todos os outros, esse texto fica sem final. O final só existe na nossa cabeça: a gente nunca vê ele chegar, e quando vê, já passou. Nós só temos na verdade o presente, então não faz nenhum sentido se preocupar com o fim.


sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Mistério do planeta.

Então outro dia entrei em crise com a minha arte. E eu sei que não devia ainda pensar nessas coisas, de como vou sobreviver, e como vou ganhar dinheiro e não da pra viver de edital e pa e pá. Mas querendo ou não, não tem como escapar de tudo isso. A maioria das pessoas que eu converso aqui e ali, e uma parte de mim também, sempre diz que tudo vai acabar se resolvendo e que não tem porque gastar tempo precioso se atormentando por conta disso. Por que nada mais é do que tormenta. Não tenho respostas e francamente nem sei se quero ter, mas como estou obstinada a viver de um ramo tão inseguro, não posso deixar de me preocupar. Li no On the road, que sobreviver é fácil. Sobreviver a gente consegue, com qualquer coisa. Mas e quanto a viver? O que eu quero viver? O que eu quero fazer? E agora, qual o próximo plano? Essas sempre são as coisas mais difíceis. E se eu não conseguir atingir as metas que estou colocando para mim mesma? Talvez não tenha problema, e no caso, talvez seja até melhor, eu sei. Eu sei de todas as variáveis dessas hipóteses que passeiam aqui e ali pela minha cabeça. Eu já pensei nisso, nisso e naquilo tudo que você puder imaginar. Mas ainda assim não acho conforto e muito menos reconforto. O negócio, como sempre, é desistir e deixar acontecer, até que isso volte a me perturbar, e acredite, vai voltar.
Mas eu não vim aqui pra falar disso. Eu vim falar de mil coisas. Mil outras inquietudes com a minha arte, e isso é bem diferente do que eu estava falando antes. Num outro dia, estava eu numa rodinha, com a minha cabeça já chafurdando nesse tipo de coisa, até começarem as discussões típicas (e por que não trágicas?) de o que é arte e etc e tal. O que torna uma pessoa artista e outra não, pra que serve arte, se você faz arte o que fazer com esta, o que dizer com esta, pra quê dizer com esta. E nisso tudo a mente viajava quase num caminho sem fim e sem volta. Um caminho sem volta que aceitei percorrer há uns tempos, mas que até hoje estou lidando com suas consequências. A gente pode ver o artista pelo lado técnico e emocional, como pelo conceitual e objetivo/prático. Deusmelivre de pensar nessas coisas, que pelamordedeus, eu estou de férias. Já deu disso até durante o período de aulas. Como pensar com a sociedade, como fazer algo para a sociedade, como tirar as galerias das elites, arte de rua e tudo o mais.
É bem fácil entrar em parafuso. E no meio disso tudo de apanhado de coisas, discussões de apanhados de coisas, novos baianos de trilha sonora e um porco tatuado, ouvi um monte de coisas válidas, um monte de coisas nem tão válidas assim, um monte de porcaria, e um monte de coisas engraçadas.
Mas no meio desse monte de perguntas eu sempre acabo me perguntando o por que de ficar se perguntando essas coisas o tempo todo. Querendo ou não eu sempre acho que o fato da gente se preocupar com esse tipo de coisa já é um diferencial daqueles que simplesmente fazem por fazer. E no fim das contas acaba sendo assim mesmo. O conjunto de reações que uma pessoa tem quando vê, ou ouve uma obra de arte pela primeira vez que eu classifico como: 1- a reação imediata, o que a pessoa sente sem fatores determinantes exteriores à obra. 2- o momento que ela pensa: mas e o que o artista quis dizer com isso; e 3-o momento em que a pessoa escava a mente atrás de referencias pra poder relacionar com o trabalho do cara;
Além disso, como fazer que o que a pessoa absorva da obra seja exatamente aquilo que você pensou inicialmente? Impossível. E as vezes as outras pessoas ainda enxergam além do que você, que fez, viu. O sentimento e o estado emocional que a pessoa está, e as expêriencias anteriores de vida que ela vai utilizar para se identificar com a obra, que pode ser uma coisa imediata ou não. Será que as pessoas só se relacionam com aquilo que se identificam? Ou não, talvez elas se identificam com aquilo que não são, mas anseiam pelo menos um pouquinho por ser? E qual a importancia disso tudo. Buscar na arte a solução para as inquietações nossas, e esperar que as inquietações não fossem à principio só nossas? Egoísmo na arte. A arte é puramente egoista, pois parte de cada ser humano, não do coletivo, mas do individual. Só pensar na busca de uma solução já seria nesse caso o diferencial, já que a maioria das pessoas, como podemos facilmente ver exemplificado na musica pop que a indústria nos joga na cara, não se preocupa em dar uma solução para o problema, mas apenas a cara do problema, mas para você se identificar, não para superar ou solucionar, ou no mínimo pensar um pouco mais a respeito, pois não passa daquilo que está ali.
Eu disse que na música falta tempo, pra conseguir evocar esse tipo de solução, e que na música erudita, por exemplo, é muito mais fácil enxergar esse tipo de coisa, pois havia tempo para solucionar o problema. Não eram dois minutos e meio de chorar as mágoas, mas bem dizer vinte onde você se acha e perde e acha de novo.
e de novo eu me perdi e nem eram essas coisas que eu queria dizer. Queria falar sobre o frágil no pesado, que é mais ou menos minha proposta futura de trabalho, uma vez que passei a me encontrar nos meus objetos humanos.
"Vou mostrando como sou e vou sendo como posso; Jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos e pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto e passo aos olhos nus ou vestidos de lunetas; passado presente participo sendo o mistério do planeta."
Vou deixar vocês hoje com mistério do planeta na cabeça, pois aqui e ali eu acho que todo mundo tem que se viciar um tiquinho em novos baianos. E jogar o corpo no mundo pois é só assim que a gente aprende alguma coisa.
Chega de medo e insegurança. As vezes temos só que fazer, e todo o resto do processo vira tão natural, tanto da produção quanto à reação do espectador. Natural e simples, daquilo tipo que chega sempre sorrateiro, e quando você vê já valeu toda a experiência.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

o bem meu bem.

Aquilo que não era agora é.
Aquilo que antes eu lutava com todas as minhas forças pra não ser, existe, e é bom.
E eu não esperava, e deixei de reagir.
Tudo coloriu-se num mar de alegrias simples.
Não precisava de mais nada, só precisava sorrir.
O bem também me encontrou, surgiu dentro de mim, e quando eu vi, não tinha mais saída.
Começou com uma surpresa, e continuou surpreendendo.
No seu próprio tempo, espaço, caminho.
Pra quem antes só pensava em andar sozinha, vê que agora a companhia também faz bem.
O bem se faz em conjunto, num conjunto de histórias que se encontraram, e o mal vai embora.
Fujo de tudo aquilo que me faz mal, num caminho de passos descompassados e perdidos, encontrei.
O bem que me faz e me fez. Não é fogo, é maior.
Recuperando aos poucos um brilho esquecido.
Quero nisso tudo não me perder, mas cada vez mais me encontrar.
E tudo é sincero, honesto e engraçado.
E nisso tudo o bem vira bom.

sábado, 21 de agosto de 2010

dúvida.

E se as coisas não tiverem que pesar? Gosto de tudo assim mais leve, vou levando como posso.
Deixando minhas brincadeiras de lado, o pique-pega e o esconde-esconde, chega nervosa a hora de fazer escolhas.
Não sei se estou preparada. Nem sei direito o que essas escolhas vão dizer, nem o que vão significar pra mim mais pra frente.
Opções se deslancham na minha frente, e eu sem saber aonde vão desaguar.
Vontade de pular pra última página do livro, pra saber o que acontece. Isso se um dia eu chegar a saber. No momento eu quero deixar tudo acontecer. Não vou machucar aqueles que me fazem bem. Esse é o plano por agora.

domingo, 1 de agosto de 2010

Fora da caixa.

Nos acostumamos com as caixas. As caixas nos definem e pré definem. Estiveram sempre lá, e foram estipuladas por pessoas que, com certeza, já morreram, e se consideraram geniais, por conseguir encaixar o comportamento humano. Quando nascemos, já há várias caixas. Carregamos o papel de filhos, sempre, de bebês, de crianças, e tudo que isso carrega. Caixa é conformidade. Se você faz alguma coisa, e outra que está dentro de uma caixa faz a mesma coisa, você se torna automaticamente igual a pessoa desta caixa. Caixa é rótulo. Se me digo artista, a primeira idéia que te vem a cabeça é daquele cara barbudo com um cigarro na mão, um café na outra completamente sujo e esfarrapado, de noites acesas pintando. Bom, eu geralmente ando bem limpinha, durmo de manhã, sou uma garota - logo, não tenho barba, não gosto de café e não fumo. Mas não é só isso que se trata a coisa das caixas. Elas te limitam. E você não se importa, pois está num conjunto de outras pessoas "como você", inteiramente classificavel. Não há ninguém como você. A gente tem que se acostumar com a idéia da unicidade de cada pessoa. Não nos limitar por preceitos que nos foram impostos, que só porque eu sou de um jeito, tenho que agir de tal jeito. Não é assim. Nem um pouco. Odeio ver gente de potencial se limitando por que as limitações do mundo não se encaixam com as possibilidades destes. Fora da caixa é bom. Não somos assim, tão simples, por mais que tentem pensar que somos. Temos níveis, desníveis, prateleiras, e cada objeto do mais raro e único guardado dentro da gente. Talvez sejamos caixinhas tão unicas, tão cheias das coisas mais preciosas, e também das mais sujas, e perigosas. Não sei se caixa é a palavra certa. Só quem fez sucesso até hoje foi quem pensou "fora da caixa", então pra que ficar brigando tanto para pensar dentro dela? Pra ser mais um na multidão? Pra ser normal? A caixa pra mim é bem limitante. As máscaras dizem muito por não dizer absolutamente nada. A caixa tem o vazio. Não quero ser guardada. No fim das contas é sempre o "não se reprima" de sempre. E que não existe problema em ser feliz. Se todo mundo espera que você não esteja feliz, ou se todo mundo espera que você esteja feliz mas não está, não tem problema. Acabei de ver em "Alta fidelidade", a seguinte frase: "Me acostumei a não me apegar a nada, pois tornava tudo mais fácil. Isso é suicídio." Sei lá, no momento estou gostando tanto. Adorando não me apegar, e eu nunca fiz isso antes, e está fazendo tanto bem. É claro que depois de tanto perrengue eu não tinha como me apegar, mesmo. Talvez eu esteja me apegando, mas só às coisas boas, saudáveis e que me acrescentam. E é assim que deve ser.
Então. Viver fora da caixa. Não só pensar, mas fazer as coisas de acordo com suas próprias regras, e não com a dos outros. Só nisso existe a verdade. A verdade só é real quando é verdade para você. Só na verdade, beleza e liberdade. E nisso tudo amor. Tudo bem que é uma retomada do texto anterior, mas é tudo isso: beleza, verdade, liberdade e amor. Só nisso, há arte. E pode ser boêmio da minha parte, eu não ligo, mas é verdade, minha verdade.


quinta-feira, 29 de julho de 2010

Passível impassável.

Eu tenho que lembrar de deixar de ser egocentrica. São situações como a de ontem, que me fazem perceber, que tem tanta coisa. O pior de tudo é ficar se sentindo completamente passível em relação a tanta coisa. Por que na minha posição de artista, eu me sinto apenas como uma pessoa que documenta e não como uma que reage. Mas aí fazer a arte reagir? Não sei como e nem sei se quero ou se funciona.

"nós temos o tamanho que nosso coração tem, somos limpos quando nosso coração é. podem nos tirar tudo até nossa vida e nosso égo mais ninguém é capaz de matar nossa alma , a não ser nós mesmos."
as mentiras que juntamos, só nos faz ser complexos demais pra sabermos o valor que tem aquilo que é inominavel.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Pensamentos bagunçados

Nunca mais melancolia.

Nessa história toda, nesse blablablá interminável de inconquistas, problemas e decepções...Eu cansei. Eu acordei. Eu abri os olhos. E finalmente, né?
Tudo isso até, claro, fechar de novo.
Confiar é difícil, mas tudo caminha para a prosperidade.

A gente nunca percebe o quão mais fácil tudo fica, uma vez que você toma conta e nota das coisas.
Decidi escolher valores. Decidi pensar no que acredito de verdade. Acredito na boemia. Acredito em beleza, liberdade, verdade, e amor. "Above all things I believe in love." Eu já mencionei aqui minhas teorias românticas intermináveis.
Flerto com a idéia de uma vida louca que jamais pensei seguir.
Flerto com a saudade de tempos que não conheci.
Por uma vida menos ordinária.
Por uma vida louca e limpa.
Por Kerouac, por Holden Caulfield, por Alexander Supertramp.

Só conhecemos de verdade um lugar, quando conhecemos as pessoas deste. Pessoas são impossíveis de conhecer. Elas estão sempre surpreendendo, de um jeito ou de outro. Com histórias que você nunca pensou em ouvir, por sentimentos que você nunca pensou compartilhar, por olhares que você nunca se imaginou dando ou recebendo. A beleza está na vida. Na coincidência que é estar vivo nesse universo, em cada planta, e no céu, eterno e interminável.
A verdade está nas pessoas. A verdade está no trabalho honesto, no se assumir como gente, cheio de defeitos e efeitos. De aprender e lidar com uma realidade que lhe foi imposta. Não escolhemos onde viver, não escolhemos aonde nascer, não escolhemos nossa cidade, família, irmãos. Escolhemos amigos, escolhemos caminhos, escolhemos paixões, e mesmo assim tudo já está praticamente determinado. Como pessoa unica de um contexto sociocultural único a nossa tendência é fazer coisas que qualquer pessoa na nossa situação faria. Mas é uma situação sempre unica e inigualável. E se mesmo assim somos capazes de surpreender, nós temos mágica, nós temos milagre, nós temos beleza, e nós temos verdade, em cada escolha. Adeus ao falso, ao irreal, à hipocrisia, e a tudo aquilo que deturpa nossa condição de experiência humana. Aceitação, verdade em primeiro lugar. Só na possibilidade da verdade podemos ter confiança, e verdade e confiança já são duas coisas bem difíceis por si só. Liberdade. O que é a liberdade? É desapego? O que é desapego? Como funciona o desapego? Liberdade é um conceito complicado. Sempre relativo demais. Liberdade é a sensação de não estar preso, de fazer o que quer, de não se preocupar com nada mais além daquilo que te importa. É, sim, desapego, é se despreender de regras, que te seguram, que te impedem de voar. Liberdade é o voô. O ainda mais improvável, tornando-se possível. É a habilidade de tornar isso possível. A nossa liberdade termina onde começa a do outro. Respeito, limites, regras. Liberdade de fazer aquilo, com aquilo que tem. Com aquilo que pode. Liberdade também tem regras. Mas não é nas regras que está o sucesso. Não posso falar de sucesso se não o tenho, nem sei o que é isso direito. Não sei se vem para o bem ou para o mal.
Agora ao amor. A razão de viver. O único lugar onde podemos encaixar todas as outras palavras. Beleza, liberdade, verdade.

"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?"

Luís de Camões (1524-1580)

Camões define bem melhor que eu.

Cansei de procurar rachaduras em espelhos, os fantasmas da cabeça, e os monstros dentro do peito. Aceito para mim uma convivência saudável com todos, os fantasmas, os monstros e os esqueletos. Procuro a minha paz na paz dos outros. Na compreensão, no abraço.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Metamorfoses diárias.

Muda o cabelo, muda as roupas, muda os óculos.
Muda isso, muda aquilo, muda tudo.
Faz a sobrancelha, depila, limpa, escova, raspa.
Arruma, arruma, arruma.
Sombra, lápis, brinco, blush, colar, batom.
Muda, muda, recomeça.
Corta, colore, repica e e faz mecha.
Muda o jeito, muda o tom, muda a fala.
Muda a gente, muda a mente, muda o mês.
Muda a cabeça, o amante e a sensatez.
Muda tudo, não muda nada.
Esperança que tudo mude.
Só muda o mundo mudando a gente.
Só a mudança do mundo muda a mente.
Pensa, chora, cansa.
Dorme, acorda, recomeça.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Recortes de trabalho de vida.

São quebra-cabeças, são homens-sombra, homens sem sombra, é a falta de chão. É a quebra com tudo aquilo que se diz chão. É o sentido e a razão, , e as lendas urbanas. É o vento, o conceito, a música. É tanta gente "interessada", que faz a gente se sentir desinteressante. É o sentimento, a decisão, a falta de satisfação e o caminho tomado, Turbilhão de coisas, turbilhão de sentidos, que não se encontram, não se desfecham, nem muito menos desaguam em lugar nenhum. Na cabeça talvez. Na mente você tem o mar, na mente você tem os monstros. O contexto nos cria ou nós criamos o contexto? Cadê meus sentidos? Fazer a falta dele passar pro papel, não tarefa mais fácil. Acho cercada de quebra-cabeças, olhares vazios, homens, sombras, casulos, cata-ventos, máscaras e cidades coloridas. Inspiração só falta, mas tudo se surge. Faz algum sentido? Te toca, te exalta, te livra daquilo que falta! Não é paixão não é trabalho, vira tudo produção. "Desculpe, eu não estou sentindo nada". Tanto medo de tanta coisa. Talvez não dê em nada. me isolo do universo e fica tudo bem, até sair de casa de novo. Não tem álcool que sare a ferida que se abre sozinha. Incoerente, simpatia que empata a empatia; Incoerencia é tudo, e nada nunca fez sentido.
Inspiração não existe, se trabalha. Odeio trabalho que pareça forçado. Gosto de trabalho que se faz livre.
Livros encaixotados, palavras engavetadas, quero dizer mas não vão entender. Nem sei se quero que entendam. Livros que tenho que ler, filmes que tenho que ver. Coisas a escrever, pensar desenhar. Atordoada como um zumbi- irrequieta com a falta de vida. Falta daquela que ainda não foi. Não sei o que ser, não sei o que quero, não sei o que fazer. Talvez eu já seja, será?
Não condeno a beleza, que essa se faz fundamental. Tristeza é sina de artista. Todos estamos doentes, e viva Saramago. Não que eu leia, já disse sou leiga.
Não sou boa com novas mídias, as velhas me bastam. Não tenho paciência para um monte de coisa, e um monte de gente que me faz sentir a parte.
Odeio a verdade, odeio o azar. refugio-me de novo: máscaras, cores, circos, amores, famílias. E a estética se constrói e se perde tudo na minha coesa incoerência, se faz por linhas e pincéis. Eu ligo pro interno, pra chance, pro futuro, pra juventude. Meu trabalho já deixou de agradar. Simpatia não basta; Agressão muito menos. Tudo irrita e pouco fascina. De novo com a sina, queria paz. Queria saber, queria ir atrás, queria fôlego.
O ar anda rarefeito para aqueles que pararam de respirar. É ambição, é dever, é fogo, é poder. O querer fica mais atrás, agora todo mundo quer mais. É escolha, é sonho, é destino? Não sei.
Quero arte. Quero schiele, toulouse, brancusi, giacometti e rodin.
Falta precisar acreditar. Ninguém mais acredita. E todo mundo zomba, o tempo todo, de tudo. Dai-me paciência. Dai-me aquilo que eu quero e não posso. Dai-me um sorriso. Dai-me luz. Dai-me chão.
É tanto que falta. O labirinto perde o propósito, se você pode sobrevoá-lo.
Corrida contra o tempo? Corrida contra a preguiça. Saia de mim que eu não quero mais sono. Quero comida, comida, comida, satisfação do açúcar, num pote de sorvete de doce de leite.
Ah, paz, banho quente, pés vermelhos, cai na cama pesada, dormente inteira, inerte sempre.
Liga a televisão, vive de televisão, gira os canais e nada de bom, pensa em um filme e vai pro computador, fingir que tem vida. Sai de casa, pra doer, melhor a cama, os pés vermelhos, o cobertor e o ventilador. Cama, não volto, não vou não faço, não saio.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Cenas de anti-cotidiano

Voltando pra casa pela W3 norte, às 3h30 da madrugada. É muito engraçado ver as criaturas da noite em seu habitat natural. Somos todos pessoas, mas são pessoas marcadas. Marcadas por tanta coisa. O bicho homem, já dizia o poeta.De dia parece que só tem luz, na madrugada tem a sombra. E a sombra não é lá nem um pouquinho bonita. Quem vê já acha normal, de tão banalizada que a coisa está. prostitutas, fazendo sua ronda, zumbis do crack zumbizando, e tudo rolando na mais plena naturalidade. Fora dos semáforos, durante o dia não existe nada assim, quem sabe na rodoviária, mas essa já tão movimentada por gente de todo dia, que não é mais nada demais. São as criaturas da noite. São delas que todo mundo foge, e se interna cedo em casa, debaixo de um cobertor de frente para a tv. São delas que a gente tem medo no dia-a-dia. Das armas, das facas, do medo. A gente foge por medo do medo. E o medo consome. Eles se alimentam do medo. Criaturas são gente. Gente que pelo motivo que for, perdeu a batalha, ou desistiu do jogo. lembrei muito daquele filme, "Eu sou a lenda". Eles fugiam da luz. Eram seres humanos como nós, mas aí tudo muda, e de repente a gente se ataca. Eles se animalizam, a lei da bala. Eles dominam todo o cenário da cidade destruída, mas eles ainda fogem da luz. Eles são sombra, sombra da gente , que um dia foi gente. Isso tudo se verbaliza na história de um homem, que sozinho, e já tão plenamente atingido pela situação tenta reverter o quadro sozinho. É um ótimo filme e ainda digo que o final não podia ser outro, mesmo que todo mundo ainda discorde. Além de tudo ele tem uma das cenas mais trágicas, do sacrifício da cachorrinha Sam.
Foi muito bom lembrar disso tudo, por mais que eu ainda tenha medo. medo consome e medo limita. Quase como o conforto. O homem se desumaniza, e é cada vez mais normal. Pra caminhar numa noite e ver tanta gente tão diferente. Eles são donos da noite, a gente ainda foge. E vamos continuar fugindo. É uma realidade que é bem mais fácil evitar. Não julgo postura nenhuma. Também não sou ninguém, também tenho medo, também fujo da sombra esperando que algo como a luz possa resolver todos os meus problemas, só de estar lá. Nenhum problema some na luz. Só adia, só esconde. Mas está lá. E provavelmente não vai deixar de estar tão cedo.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Retratos de um livro esquecido e adormecido.

A seguir trechos de um livro que eu nunca escrevi. Talvez eles se tornem algo maior do que eram, não passavam de pensamentos. Re-li o texto, e surpreendentemente, dentro de muitas coisas completamente descabidas, achei palavras que valiam a pena. Que valham a pena, portanto, a todos:

Ele prefere a solidão, acha que esta ajuda. A solidão me destrói.

Me envolvo com coisas que não compreendo.

A relação com os amigos, os fantasmas particulares, os enredos familiares. Ainda estou na fase de absorção de nova amizade, e acredite como é grata. Amo inícios, talvez porque sejam o que com o que eu sei lidar melhor.

Ele me perguntou se eu tinha fantasmas. Eu respondi quase de súbito:"Quem não tem?".

A solidão que reside em cada superquadra, acrescida dos elementos fantasmagóricos de uma cidade que nunca foi bem cidade.

A tal da melancolia pra ele foi superior. A tal da compreensão do imcompreendido. O tal do entender o que nunca esteve explicito, mas que sempre esteve lá. Será que quanto mais perto chegamos mais difícil torna-se a própria vida? A felicidade reside mesmo na ignorância?

Contou-me de seus demônios, que eu talvez não esteja preparada para enfrentar. Não é tanto ele quanto a idéia dele.

Talvez tenha mudado, talvez nunca tenha sido do jeito que pensei que fosse.

Eu sou uma menina. Sei de muita coisa que não compreendo e espero viver muito mais que vivo. Vivo pelos meus amigos, pelas relações, pelo que dá certo e o que dá errado. As vezes que me sinto melhor é quando posso sentir que ajudei alguém, que acrescentei algo a sua formação; Formação esta que nunca se dá, nunca termina. Viver é só pra quem quer. Você não está vivendo se tem medo de errar, medo de ir atrás medo de fazer a merda que vai te satisfazer. Faça a merda sim. A merda está lá pra ser feita e não deixe ninguém te reprimir nunca, porque não tem coisa pior. Demorei muito tempo pra entender que muita coisa não é errada. Que errar faz bem.

Não vejo política no amor. Passara a noite anterior numa discussão ferrenha de tais assuntos, sendo talvez a única sóbria da roda. “Above all things I believe in love.” Era uma menina fácil e difícil.

Viu-se na noite anterior compreendida por dois pensamentos: a necessidade do ser humano, na sua existência por si só, de um “porquê”, de um “como”, até de um “aonde”. Via como solução escapatória, mas ainda não satisfatória dessa razão de viver em Deus. Ela não acreditava.

O amor não está em Deus, mas Deus está no amor.

Só pra eu me encaixar no modelo perfeito do artista incompreendido com um cigarro numa mão, um café na outra?!

Eu vivo bem sim do meu jeito. Posso estar no fundo do poço, em alguns sentidos, mas não estou. Não me vejo no fundo de um poço. Sou uma menina meio perdida, não sei pra onde ir, não tenho idéia do que vou fazer, mas se isso me faz bem, que tipo de poço é esse? “Meu buraco é mais colorido que o seu.” Ela disse. Talvez um pouco indignada. Não bebia, mas se entregava em palavras a discussões de filosofias que para ela não faziam o menor sentido. Pra que ficar filosofando? Pra que ficar pensando todas essas coisas que sinceramente não levam a lugar nenhum. Um pouco de filosofia é muito bom de vez em quando, mas sempre chega a hora que chega. Me entregava aquelas discussões, não sei porque. Me revelei demais a estranhos. Não deveria fazer isso, não estou contente por ter feito.

O orgulho surgia dos bons filmes que vinham da desgraça.

Até onde devemos nos sentir culpados? Até onde devemos tentar ajudar? Até onde é apenas inútil pensar em ajudar e até onde a ajuda é inútil? Devemos pensar só pela esperança. Até onde fingir que entende, e até onde se fingir de vitima, numa sofridão coletiva de uma gente que luta pelo dinheiro do final do mês, pra poder alimentar alguém? Pra que se fingir de vítima, e o que nós temos a perder?

Às vezes ela se sentia desmotivada. Vai ver por isso tanto recorria a filmes e frases. Acaba tudo ficando apenas pela esperança de um dia ter um motivo maior. E na esperança e a busca por um motivo maior esqueça-se pela própria busca. Que esse propósito seja perdido, e quando ele perdido, encontrado. Uma vez que nos perdemos na busca, torna-se desnecessária a necessidade desta. Ela simplesmente desaparece, Se você esquece de procurar, você encontra. Parece claro? É a mesma questão de sempre, a procura da felicidade. Ela não se procura, se acha.

Ou pior, fecha-se para o mundo e para todos, na esperança que fechar-se vai te deixar mais forte para ajudar aquele que precisa, quando na verdade, só passa a te machucar também. No fim do dia, todo mundo acaba sofrendo. Até que chega o sorriso. Tímido, inconstante, virgem dos problemas do mundo, o sorriso. Puro, irrequieto, diz o que quer sem pensar em dizer. Já que não te dizer o que eu penso já é pensar em dizer (já dizia los hermanos).

De repente, a liberdade é tanta, que limita.

E é por isso que não podia ficar sozinha. Precisava desesperadamente afastar-se de si mesma, antes que fizesse algo do qual se arrependesse.

Dentro da casa chovia, e do lado de fora fazia muito frio. Foi até a geladeira e passou possivelmente meia hora indagando-se se bebia o resto de vinho que encontrara.

O clima nublado, chuvoso e desesperado continuava. Mas dirigir na chuva virava já até algo agradável. Nada como o céu que se reflete no asfalto, de uma imensidão tão majestosa, e a qual poucas pessoas percebem. Dirigir na chuva a noite é uma coisa, de manhã é outra completamente diferente. Tudo brilha, num nublado branco-gelo lindo, de longe vemos alguns faróis de carro acesos, quebrando o branco-gelo em vermelhos e amarelos. Ainda estava cansada, demorou a dormir na noite passada, em lembranças e discussões internas.

Fez algum comentário banal sobre algo banal, o qual foi devidamente respondido com banalidades, e depois de um tempo a olhá-lo, de tão nervosa sem ouvir um nada, ele saiu, foi a algum lugar fazer alguma coisa. E ela lá, parada cansada, sem pensar em absolutamente nada.

Fecho meus olhos para um futuro que está por vir. Abro os braços, receptivamente, sorrio com a maior distância possível de um canto a outro da boca. Um sentimento inquietante de ir atrás, de fazer alguma coisa, de construir alguma coisa, de ter um motivo para se orgulhar.

Retratos da vida real. Uma coisa que nunca perde o interesse. As pessoas continuam nos surpreendendo. O que é o máximo. Até nós nos surpreendemos de vez em quando. A menos que você seja aquela pessoa bem lugar-comum, que nunca faz nada de diferente. Mas essas sim são raras. Tão bonecas russas.

Até a trilha sonora você pode ter certeza que estava tocando na minha cabeça na hora. A musica ideal pra cada momento. É uma coisa importante. A música certa para o dia certo. Uma vez vi em outro filme: “Não tem nada melhor que descobrir a música certa para começar o dia.” E isso está certíssimo. Parece que quando isso acontece, e as vezes é raro, o dia inteiro desliza, desenrola no tom da música, e é uma coisa tão mágica. Basta ouvi-la uma vez para saber.

Sinto falta dos meus filmes, dos meus livros, dos meus amigos. Saudade das coisas que ainda me falta viver, saudade das pessoas que ainda me falta conhecer. Sinto falta de um futuro que ainda estou por ter, dos fatos que mudarei no meu decorrer, da vida que ainda estou por ter.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

"Assim que quer, assim será, eu vou pra não voltar."

Não me deixo auto-trapacear. Não caio nos meus próprios buracos, mesmo que me afogue de devaneios. O sonho diurno que um dia já foi, já foi e passou. A dor já foi, a falta também. Pele requentada e adormecida. Dormente, inerte, cansada, desistida. Deita, vegeta, não sofre, não ama, não chora, não vive e não sorri.
O que é fácil se complica, o que era real se mistifica. Inaceitações de palavras.
Conceitos se deglutindo. O infinito sufoca, o barco afoga. Flutua sem ar e cai sem chão. Vai sem ir. Retoma o que nunca deixou. A falta não dói, o sentimento constrói. Conforto limita, atrasa. Na próxima não volto. Não volto sem me ir. Que dessa vez eu fui.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Descompassos

Descompasso descompassado descompensado.
Descompensado pensamento, borbulha interior.
Muito pouco tempo pra pensar, que já passou.
Casa não parece mais. Aquilo que era bom não é mais.
Fora de tudo fora do compasso fora da rima fora da sensação.
De repente o equilíbrio se dá melhor sem.
Vai embora, volta e confirma.
A questão nem é mais essa.
Tudo mudou.
Redemoinho, rodamoinho, moinho de vento, cate-vento.
Gira, gira, sobe, desce, gira, gira!
Enjoô.
Ninguém espera.
Se surpreende pra depois cair.
Cai, cai, cai.
Dá de cabeça.
Presa em si, dói.
Quem liga?
.
.
.
Chão.

sábado, 15 de maio de 2010

O Surreal se apresenta.

Conversando com um professor, ainda agora na fase fim de greve/volta as aulas, mil tópicos e assuntos voltaram à tona. Já falei aqui dos meus sonhos de voar. Pois na tal aula, tais conversas sobre sonhos tomaram um novo lugar. Falando sobre aquele estágio, onde você não está dormindo nem acordado, e você pode mudar o que acontece no sonho, a parte em que você participa ativamente, e você lembra de tudo e sabe o que está acontecendo, e acaba por poder inserir na mente os elementos do dia a dia que insistir. Aquele ponto de onde você pode ou continuar dormindo, e deixar a imaginação fluir de uma maneira que você não consegue anteceder, pois ela provém quase inteiramente do seu subconsciente, ou você acorda, mantendo como lembrança apenas os últimos acontecimentos do chamado sonho. Depois dessa aula, passei um bom tempo pensando nisso, e quando dormia, passei a ficar muito mais atenta a isso tudo. Queria lembrar dessa parte, e do que o meu subconsciente alterava na minha imaginação proeminente forçada.
Se eu pensava num detalhe, como esse detalhe iria se relacionar com as coisas já provindas da minha mente e como tudo ia se dar. Então eu passei a pensar, enquanto dormia, em pessoas, objetos, descobertas, coisas que iriam acontecer no dia seguinte, planos, etc. Como uma pessoa normal faz normalmente, mas dessa vez tentando tomar consciência disso tudo.
O resultado não é bem um resultado ainda. Eu quero saber o que me atormenta e acabo sonhando com coisas do tipo: a minha irmã bebendo o último nescauzinho da casa, entre outras banalidades.
Foi só hoje, que depois de um tempo também lembrando de sonhos antigos que eu descobri o tanto que eu sonho com morte. E olha, que não são poucos os sonhos de morte. Geralmente, sou eu que morro, e essa sensação de como vai ser quando chegar o dia já está tão clara na minha mente, tudo pelos sonhos. Já fui perseguida, já fui trancafiada em câmara de gás, já morri comendo carne de sol por um fugitivo da favela, no meio de um campo de batalha (e esse foi por muito tempo recorrente), já caí de prédios muito altos, já participei até de um episódio de jogos mortais 2, já morri pra salvar a vida da minha irmã... Queria saber por que tanto tormento com isso. Talvez eu devesse fazer psicanálise.
No último sonho que eu tive, eu morria com um tiro na testa. E eu sentia o enregelar da coluna, enquanto me retorcia num êxtase, perdendo o fôlego e a palavra. Num close, num momento, num segundo. Um frio na barriga como nunca antes visto e uma sensação de "e agora? acabou?".
Mas os meus sonhos preferidos são os de revoluções. Ou de grandes viagens. Já viajei nas costas de uma esfinge, por meio de um mundo subaquático. Estações de trem imaginárias de mundos em ruínas. Ou mesmo quando eu saio voando daqui pra Recife. Parece que só depende de mim.
De todo modo, é sempre legal lembrar dessas coisas. Já tive medo de dormir por medo dos meus sonhos, de tão aterrorizantes que puderam ser. Talvez a vida real não esteja tão longe. Não que eu tenha motivos pra reclamar. Pelo menos não agora.
Vai ver esse é o problema. Pensar é brigar com o mundo.
Não ver a verdade nos olhos daqueles que te insistem. Mas isso é marca. E todo mundo só é quem é por causa das marcas. O negócio é aprender a ver além delas.
A cada dia que passa, a gente precisa se aprender um pouco mais. E quanto mais a gente se conhece, talvez a gente se conheça menos. Se eu sou capaz de me surpreender, quer dizer que eu ainda tenho alguma chance. Não quero uma existência branca. Não sou nem um pouco literal. O inconsciente trata disso. O subconsciente também. É fazer o nosso primitivo valer, a nossa intuição funcionar. Porque, aquilo que a gente não entende, encanta. Não gosto das pessoas fáceis. Gosto de muitas camadas. O que não se compreende fascina, e a piada explicada perde a graça. Queria lembrar de tudo que foi dito naquela aula. Muitas coisas me pareceram tão importantes e com várias eu pude me relacionar. Talvez ainda não compreenda metade do circo, mas isso que faz valer a pena. O ir atrás das respostas faz mais sentido do que as próprias.

sábado, 8 de maio de 2010

Esquecibilidades.

As vezes é impossível deixar de me sentir uma completa idiota por uma série de motivos. É claro que eu não nego o tanto que aprendi. Ninguém nunca te fala o quanto aprender pode ser doloroso, e você acaba por se arrepender de coisas que faz, fala, ou mesmo de como age. Ninguém é responsável, e ninguém nunca vai entender as coisas da maneira como você vai. Muitas coisas estão em jogo.
As vezes eu não queria ter tido de crescer tanto tão rápido. Acho uma injustiça. Eu queria não esperar tanto quanto eu espero, de tudo.
É como nascer de novo. Te arrancam do lugar onde você viveu os últimos 9 meses, confortabilíssimo, e de repente você tem que aprender a respirar um ar, que nunca respirou antes, e arde. Isso sem contar o monte de gente ao seu redor, esperando alguma coisa. Você de repente é arrancado de um lugar confortável para um circo de horrores.
As vezes a gente se depara com a realidade. E por melhor que você esteja, talvez o tormento nunca passe. E talvez não tenha como passar.
Quero ir embora. Quero um lugar novo. Quero um momento novo.
Quero parar de me sentir estúpida, mas talvez isso também seja impossível, pelo menos por agora. Todos temos histórias que deveriam ser esquecidas.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Nada é real.

Me perguntaram o que eu quis dizer com "Everyone has their own magic, because nothing is real."

Quer dizer que a magia está dentro da gente. Que todo mundo tem sua visão unica e especial de tudo, que nunca vai ser igual a de ninguém. Nada é real. Nada é fato. As coisas são do jeito que a gente acha que elas são. As coisas, são a nossa visão sobre elas, entupidas de significados entrelaçados, que só nós sabemos. As pessoas mais parecidas são completamente diferentes. Se nada é real, então somos todos feitos de magia. Somos nós a magia. Somos nós o erro de calculo do mundo, que nos fez existir. Somos coincidências. Existimos por coincidências, e tudo, por um mínimo cálculo poderia ter sido completamente diferente.

Eu só queria saber o que as coisas querem dizer. Se nada é real, eu crio pra mim mesma um problema. O que resta? Qual é o limite que define a distância entre a nossa mente e a mente dos outros? Qual a distância entre o real e o abstrato? A loucura e a lucidez, o uniforme e a nudez?
Como saber que as coisas querem dizer pra você o mesmo pras outras pessoas?
Será que alguém sabe? Será que ao menos existe resposta pra isso?
As vezes eu crio relacionamentos na minha mente. Tem algo de errado comigo?
Eu quase vivo de espectativas, que crio sobre tudo e todos ao meu redor.

Chegou no ponto onde eu não sei mais o que eu quero dizer. Então é melhor não dizer mais nada.


terça-feira, 27 de abril de 2010

Sobre sensações e recomeços.

Não sei muito sobre liberdade. Pra saber de liberdade, precisa saber de prisão, e eu nunca soube muito de prisão. Sei que a nossa liberdade vai até onde começa a do outro. Mas não é isso. As vezes a gente vive em prisões tão menores, e tão mais imperceptíveis. Aí a gente se liberta. É como um fôlego novo, um pique novo. Uma vontade de fazer alguma coisa. É quando a gente consegue finalizar uma situação sufocante. Sair dela, superar, passar pra próxima. Quando a gente percebe que existe gente lá fora além da gente. E eu andei falando muito disso nos meus ultimos textos. Da desconfiança, da descrença que eu estava de tudo e de todos. Sem saber que algumas coisas são possíveis. Decidi partir da premissa de que qualquer pessoa é absolutamente capaz de fazer qualquer coisa. Seja ruim ou boa. Surpresas.

Me apego a sentimentos, a sorrisos, a encantos, a palavras. Nada de especial, sou só mais uma na multidão.

Descobri em sentimentos bons, uma maneira de me livrar daquilo que me sufocava. Me envolvi num relacionamento com a minha própria mente. Um flerte leve que me traz um sorriso, um presente de alguém que importa. Descobri algumas das melhores coisas da vida. A expressão do meu pai quando viu minha tela, que quase arrancou uma lágrima. Coisas do cotidiano que de repente ganham uma importância fenomenal. E uma vez mais, você deixou pra trás. A vida segue como sempre seguiu, e você percebe que o fim do mundo ficou ali na esquina. Nada nunca acontece do dia pra outro. As coisas vão acontecendo lentamente sem que ninguém perceba, até chegar o dia em que explode. Tudo é meio que premeditado.
De todo modo, isso é só mais um texto pra falar o quanto é bom respirar de novo.
Fazia um tempo...

domingo, 25 de abril de 2010

Live and let learn.

A gente cresce quando perde a inocência. Não a inocência, mais a ingenuidade. Quando a gente deixa de acreditar em contos de fadas. Quando acontecem coisas com a gente.
Eu sinto falta. Sinto falta de não ter idéia. Sinto falta de não acreditar que toda pessoa que eu confio vai me virar as costas. Os ignorantes são mais felizes. A gente vai crescendo e percebe que aquilo que sabia, não sabe mais, aquilo que conhecia, não conhece mais. Que ninguém é igual a você, e não tem o menor motivo pra você acreditar que seja. Ninguém vive as mesmas coisas né. As vezes eu queria que nada tivesse acontecido, queria saber, queria conhecer. Nossas idéias não vão nunca estar certas.
É legal que não estejam. Mas também é bem ruim as vezes. Eu espero demais. Será que sou só eu? Eu levo em consideração sorrisos e olhares que me parecem sinceros.
As vezes eu entro em um colapso. Não é todo mundo que vê. Ninguém é pra todo mundo. Nem ninguém é todo mundo.
Não me arrependo. De nenhum segundo. Só me arrependo do que eu não fiz.
As vezes eu me julgo por não ter visto as coisas. Mas como poderia? Não existe mais a culpa. Agora já é depois. Não volto atrás, e lá se foi a ingenuidade. Todo dia você é diferente. As coisas mais insignificantes afetam. Mas tá tudo bem. Não é o fim do mundo. Nunca nada é nada demais. E mesmo que seja, passa. E o que resta? Você um pouco mais velho, e as pessoas que confiam em você. Não as pessoas que você confia, mas as que confiam em você. Elas podem trair sua confiança, mas nunca ouse trair a delas. Eu sou uma premissa do que eu posso ser. É tudo mais exagerado, e tudo mais insignificante. Não decepcione ninguém, nem você mesmo. Isso é mais comum, mas tem que confiar em si mesmo pra gostar de si mesmo. Situações passam, é você e você. Não desaponte quem acredita, e surpreenda quem não acredita.
As coisas vão melhorar. Você vai confiar de novo. Existe uma pessoa pra cada outra, seja irmã, prima, amiga, mãe.
Você não para de amar. Então ame a jornada. Ame a amiga, a prima, a irmã, a mãe, a tia e o pai.
Eu sei que eu amo. Muito.
Ame quem confia, confie em quem ama.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Delírios Capitais

Queria escrever um texto sobre os 50 anos de Brasília. Eu como brasiliense, afinal, amo essa cidade. Não é de momento. Brasília é de fato encantadora. Tem épocas que eu não me sinto assim, mas talvez seja mesmo devida a chegada desse tão esperado aniversário, que me traz isso à tona. A gente as vezes sente falta de ver gente na rua. Ou de cumprimentar as pessoas (aqui todo mundo passa reto, como eu já mencionei num texto anterior). O fato é que Brasília, tão cheia de defeitos, contradições como é, ainda encanta. E talvez encante até mais. Outro dia, tive que ir ao congresso, fazer minha inscrição para um concurso da câmara dos deputados, então levei um susto com a tamanha magnitude do prédio. Ao entrar você tem uma sensação extrema da sua pequenez diante de tudo. É como um paredão gigante de salas, janelas e persianas, e você não é ninguém naquilo, o que é uma coisa encantadora. Ao entrar, você depara com um labirinto de salas e pessoas engravatadas, correndo pra lá e pra cá, e até a numeração das salas não parece fazer sentido algum. Mas isso é típico Niemeyer. Talvez todos os prédios dele tem o costume de nos deixar perdidos. Até o Museu Nacional, onde você roda, roda, roda e não chega a lugar nenhum. É tudo encarpetado, ar condicionado e sem janelas. Mas não que isso seja uma crítica, eu juro que amo o Niemeyer, ele é isso aqui né. Essa cidade russa é culpa dele, sem esquecer do Lucio.
Bom, voltando a minha idéia original, queria falar de alguns sentimentos que só brasiliense tem.
E olha que não são poucos. Por exemplo, aquele sentimento que (pelo menos eu) sinto quando escuto Faroeste Caboclo da Legião. E eu sei, que legião hoje em dia é meio clichê, e que sinceramente acho que muitas pessoas não dão o valor que merece, mas eu tenho tão perfeita aquela sensação de "Saindo da rodoviária viu as luzes de Natal. Meu deus, mas que cidade linda!" que eu simplesmente não consigo entendê-las. Ou mesmo a "festa estranha com gente esquisita", quem não já foi? Ou as festas de rock da asa norte pra se libertar?
Ficar embaixo do bloco, falando merda com os amigos da escola? Ou aqueles churras, onde tudo que pode dar errado acontece? E ultimamente os próprios eventos "Esplanada Woodstock", como o porão do rock ou os showzinhos do museu? Quem não ficou triste quando nos passeios turísticos não podia subir na xícara e no píres (claro que o píres é um pouquinho mais dificil né)? Ou todo aquele jardinzinhos que são as quadras. Só passear pelas arvores já dá uma sensação gostosa. Isso com os dias de clube, os dia de nicolândia (que nunca vai perder as forças), piqueniques no parque da cidade. Isso porque até agora eu nem mencionei a UnB. Nossa, eu amo a UnB de todo coração, e isso é uma hora complicada pra falar, devido a greve. mas a UnB me tem na mão. Só de ir pra lá de manhã eu já começo o dia mais feliz. E o céu. O céu mais bonito do mundo, talvez seja.
Já passei por tanta coisa nessa cidade. As vezes falta muita coisa aqui. Falta transporte público, falta olá, falta hétero, falta área. Mas em compensação, uma vez que você vê, Brasília sempre vai ser Brasília. Essa cidadezinha organizada, ilhada, que já trouxe tanta coisa pra tanta gente.
E hoje é um dia muito bom, pra falar de corrupção. Até porque a culpa é nossa, e não da cidade.
Brasília encanta aos poucos. Tem que aprender a sentir. Tem que degustar com paladares refinados. Não sei expressar, mas tem tanta coisa que só brasiliense entende. É um sentimento assim, meio caloroso. É saber o funcionamento de tudo e não ficar com raiva, é encontrar as mesmas pessoas nas mesmas festas e um dia conhecer uma pessoa que você achava que era de um jeito e te surpreende por completo.São as pontes do parque numa bicicleta. É o tobogã num dia de sol com seu pai e um sorvete. É festa junina com algodão doce. É, acima de tudo, casa.
É o efêmero constante de uma geração latejante.

domingo, 18 de abril de 2010

Bom convívio social?

Surpresas não acontecem todo dia. Se acontecessem, é claro, não seriam surpresas. As surpresas, tanto as boas quanto as ruins acontecem quando a gente menos espera. e disso são feitos os grandes dias. De todo modo, não vim aqui falar de um grande dia. Vim falar de um bom dia comum.
De um tempo pra cá, eu meio que vinha perdendo a fé. Desilusão ataca de vez em quando, e eu não tenho muito o que responder. Me sinto meio que nem na música, "qualquer coisa que se sinta, tem tanto sentimento deve ter algum que sirva". Fazia tempo que eu não conseguia conversar com estranhos. O negócio é que eu nunca mais havia esperado conhecer nenhuma pessoa que valesse, por causa de decepções recentes (nem tanto). Na verdade talvez isso só seja uma pequena parcela do problema real, que é a minha incapacidade de conhecer pessoas novas. Não que seja bem uma incapacidade. Como eu já disse anteriormente, eu meio que me fechei pra coisa toda, além do que eu não tenho mesmo uma facilidade pra conversar com pessoas que mal conheço. Por exemplo, pra "puxar assunto", nossa, me enterrem viva três vezes antes de me fazer "puxar assunto".
A tal da surpresa de ontem, enfim, foi exatamente saber que talvez isso não seja um problema. Ou melhor, que eu não tenho esse problema. Acho que talvez mesmo pra simplesmente conversar com uma pessoa qualquer, você precise de uma certa ligação. Uma certa conexão. Pelo menos pra mim, veja bem, minhas amigas são pessoas extremamente sociáveis, e não é minha culpa me sentir meio defasada nesse sentido. Conseguir manter uma conversa interessante parece as vezes uma tarefa impossível, e eu não entendo bem como pra algumas pessoas pode ser tão fácil.
Outro problema, quando já formada a ligação, no caso para mim, é calar a boca. O negocio é que na minha condição de mulher, ou talvez só na minha condição de Samantha, eu me contradigo demais, então quando consigo falar, falo demais. E não só falo demais, como paro de perceber do que eu estou falando então falo besteira atrás de besteira, e assim, fica quase impossível de não assustar as pessoas. Quanto melhor a imagem que a gente tenta passar, mais a gente se enrola.
Me disseram uma vez, que eu não parecia ligar pra pra nada, e como será que eu conseguia viver desse jeito. Isso é um ótimo exemplo de eu tentando passar uma mensagem e agindo e um jeito e as pessoas entendendo de outro. Eu me importo com as coisas até demais. Ninguém se conhece sem tempo. As pessoas podem se gostar em pouco tempo, mas nunca se conhecer em pouco tempo. Queria mesmo era parar de assustar as pessoas do mundo la fora com esses meus jeitos.
As vezes eu sou pessoal demais, mas também não sei como não ser. E parece que tudo que a gente faz é socialmente inaceitável.
Vim só dizer que ontem consegui manter conversas, com pessoas que valiam. E que minha noite acabou sendo bem bacana. E que ainda escrevo o "Manual da boa conduta social" Porque sabe como é, quem não sabe fazer ensina. No fim das contas eu devo estar enferrujada. Trocar pessoas por telas não pode fazer muito bem.

domingo, 11 de abril de 2010

Have you ever dreamed of flying?


"Have you ever dreamed of flying?"
Me deparei com essa pergunta uma vez num filme. O nome do filme era Mr. Jones, e contava a história de um doente mental, esquizofrênico, cuja realidade inventada era muito mais real que a vida fora.
É claro que aqui eu poderia começar a discutir as milhares relações entre real e abstrato, entre ignorância e fato, e entre a nossa realidade e a dos outros. Mas não vim falar disso. Vim falar dessa pergunta: "Você já sonhou que voava?". O personagem principal, interpretado por Richard Gere (que eu sinceramente acredito já ter nascido de cabelos brancos), pergunta isso para sua médica, e ela responde: Quando criança, acho. Por que?
E essa e facilmente compreendida como a resposta da maioria das pessoas. Por que?
Talvez porque quando criança a facilidade de isso se tornar verdade é maior. Existe no sonho do vôo a sinceridade e a entrega de um sonho de criança. De uma liberdade incondicional, que parece não só possível, mas real. Adultos são mais pé-no-chão, e essa expressão não é a toa. Sabendo das conseqüências, das possibilidades reais de uma vida factual, perdemos o sonho.
O personagem, no filme, tinha uma constante necessidade de cometer quase um suicídio, pular do topo de casas. E sempre acabava sendo impedido. A sensação de pular não é algo que experimentamos com muita freqüência, mas sempre se torna algo a ser lembrado. O estar completamente solto no ar, sem depender de nada, ninguém e nem de você mesmo. Como quando pulamos para um lago, ou por exemplo no escorregador "Insano", do beach park, em Fortaleza. Sensação unica de liberdade, de independência, das mãos do destino e de mais ninguém.
Ontem sonhei que voava. O que talvez signifique que a minha criança interior ainda está viva. Bom, espero sinceramente que ela nunca morra. Mas foi tão real o sonho. Voei daqui pra Recife, e voei sozinha, não podia contar a ninguém que eu podia fazer isso. Uma delícia de vôo.
O negócio, é manter viva a criança que há na gente. Continuar voando, e acreditando, que, quanto menos acreditarmos num mundo cinza, menos viveremos uma viva cinza. São as cores que nos mantém acesos, afinal de contas.

domingo, 4 de abril de 2010

A respeito da efemeridade do amor.

Passando o feriado da Páscoa em casa, preparando telas, foi no banho que a seguinte idéia me veio a cabeça. Antigamente eu costumava pensar, que só um tipo de amor era realmente possível. Via o amor como algo eterno, nada passageiro, nada efêmero, absolutamente concreto. O único que eu via como realmente possível, portanto era o amor de mãe, inacabável, inatingível, inalterável. Por isso eu sonho, até hoje, em ser mãe. Acho também, e esqueci de dizer até agora que se existe uma razão de por que viver, por que estamos no planeta, porque até precisamos pensar em tais por ques, essa razão é unica e simplesmente o amor. O que me torna, querendo ou não, uma romântica, mas eu acredito piamente que tudo se explica nisso.
Enfim, eu pretendia chegar a algum lugar com esse texto. É o seguinte: eu descobri que o amor é sim, possível, sem ser apenas o amor de mãe. A gente sempre vê isso, mas nunca enxerga de verdade. Descobri algumas pessoas que amei, e que mesmo que tudo tenha mudado e hoje em dia um retorno seja impossível, eu continuo amando até hoje. Descobri o quanto eu amo meus amigos. Descobri o quanto eu amo o que eu faço. E embora singularmente falando apenas um desses não seja o suficiente para sustentar todas as explicações para as dúvidas mencionadas mais cedo, os meus amores coexistem, me tornando completa. Amor não acaba mesmo, é sim, eterno. Mas a gente se esquece que essa eternidade significa apenas que ficou no passado. E ficando no passado, tomando lugar na sua história e no seu coração, ele dura para sempre. Não sei bem se consegui me explicar, mas é mais ou menos isso.
Não é um só amor, mas são tantos, e nem sempre correspondidos. Muitas vezes a gente ama só. A gente ama um sorriso, um gesto, uma palavra, uma voz, um relacionamento que se perdeu.
Amor é eterno, mas é também efêmero, e acaba, mas quando acaba fica, de sua própria maneira registrada na gente. E isso que faz tudo valer a pena. A gente precisa de uma certa distancia, pra enxergar as coisas como realmente são.
Nosso coração acaba se tornando um livro de contos, e a gente o porta-voz. Contos que acabam, ou continuam, e depende apenas da gente fazê-los valer a pena ouvir.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Divagações Noturnas

Ontem chafurdei minha cabeça de novos pensamentos não exatamente novos. Achei que devia escrever aqui antes que tudo se perdesse como numa nuvem de fumaça, e pelo menos para mim, dotada de memória absurdamente fraca, deixassem o plano das idéias como se nunca tivessem nem chegado perto de acontecer. Pensei nos rumos da arte hoje em dia, como passou para o abstrato das nossas mentes, no lugar do real da natureza. Ou mesmo o irreal da natureza. De uma pintura representativa simbolista, de Tim Burton, de fantasias e efeitos. De que o que se passa dentro da nossa cabeça as vezes vale muito mais do que se passa fora e as infindáveis maneiras de trazer esses pensamentos a tona, e fazê-los ganhar relevância diante de um grande público por diversas maneiras, como encantamento, ou choque. Pensei em descobrir qual o meu estilo representativo, o que é que eu gosto de fazer, e o que me traz prazer numa pintura.
Pensei também, (esses pensamentos foram bem mais claros) no esforço que a gente faz pra ser mais um na multidão. Isso por que ontem fui ao show do Lafusa, Velhos e Usados e Cassino Supernova (aliás, parabéns às bandas pelas ótimas apresentações) no Sesc Garagem na 913 sul. Me deparei com a seguinte situação: como eu já disse, uns shows ótimos, mas como lugar exerce em sua quase totalidade a função de teatro, um monte de cadeiras. E isso pra mim foi completamente estranho, por que por mim, eu estaria dançando loucamente na frente do palco. Peloamordedeus, não era uma orquestra sinfônica, né, tinha tudo pra se dançar. Menos, é claro as pessoas dançando. Um longo espaço da platéia ao palco, com ninguém dançando. No máximo uma pessoa aqui e outra ali batendo o pé. Não achei aquilo nem um pouco natural, e me esforçava de um todo pra ficar lá sentada. Talvez o distanciamento do próprio povo brasiliense, que, sem querer ofender, as vezes parece ter medo de gente. Tá, isso não tá nem um pouco claro, mas eu só queria dizer, que as vezes a gente se esforça tanto pra ser que nem todo mundo, e não tem motivo pra isso. Vergonha, intimismo, são completamente desnecessários em algumas ocasiões. O que voce se sente mais confortável fazendo? O que você quer fazer, em cada momento. Se policiar pra ser que nem todo mundo? As vezes não seria muito mais fácil só ser você mesmo?
E nesses pensamentos e discussões, acabei não sei como entrando na questão das pessoas que não dão espaço às bandas autorais e como isso não faz sentido algum na minha cabeça, pelo menos. A gente vive reclamando, que o Brasil não tem banda boa, e blablabla, quando na verdade tudo que falta para o sucesso dessas é o apoio de algumas pessoas que simplesmente se recusam a abrir a cabeça pras novidades. Mesmo antes do show do Franz ferdinand, ouvi de várias pessoas: ah, chegar antes pra ouvir bandinha autoral de merda, eu hein?
A gente precisa da mídia pra dizer se uma banda é boa ou não? Vamo lá, pessoal, que a mídia já errou bastante. E as vezes os shows das "bandinhas autorais de merda" dão de mil em qualquer outra coisa que a mídia tenha empurrado... Ou vcs querem passar o resto da vida vendo showzinho cover? Cover não acrescenta nada.
Até algumas bandas que já estão na estrada há um tempo, que são muito boas e não conseguem deslanchar. É uma injustiça e eu culpo o público.
Outra coisa sobre o povo brasiliense. De verdade, se você já foi apresentado à pessoa mais de uma vez, falar um "oi" quando encontrar ela na rua não dói, e não mata ninguém. Todo mundo finge que não se conhece, tem preguiça de falar com as pessoas e coisa e tal. Depois falam que o povo brasiliense é antipático e ninguém sabe porque. Tirem o nojinho da cara, peloamordedeus. Eu, pelo menos cansei.
Tá bom que esse post já tá ficando nervoso e sincero demais. Melhor ir-me indo por aí antes que eu me arrependa e comece a editar.

terça-feira, 30 de março de 2010

Ela ligou. Discou aquele número tão antes esquecido, que ela nunca ousou esquecer. Ousou apenas lembrar. Talvez tenha até se arrependido no segundo seguinte, mas resolveu continuar na linha. Colocou na cabeça dois firmes motivos, para explicar sua ligação, com medo eterno que sua voz trêmula estragasse tudo. Três toques e nada. Seria a hora de desistir? Ele atende, sem deixá-la desistir. Pega de surpresa, nos próprios devaneios, ela toma um susto. Fala quase que correndo, os dois motivos pelos quais ligou. Pergunta se ele está ocupado, e espera que como por mágica aquela ligação se torne uma conversa muito além do porque ligou. Ela queria que como se nada tivesse acontecido, o antigamente voltasse a tona. Certa de que sua voz já a tivesse traído, deixado escapulir a real função de tal ligação, ela se enrolou de hipocrisias, de respostas falsas, tudo para que parecesse que ela estava bem. Esbanjando na cara dele uma vida de sucessos inexistentes e penas solucionadas. Ele a conhecia bem demais pra levar tudo aquilo a sério, no entanto sabia o que era melhor pra ele. Preferiu não se envolver e de certo modo, até deu corda à coisa toda. Nenhum dos dois era mais o mesmo. Muito havia passado e eles estavam transformados. Mas mesmo com tudo, de repente eles conversavam. Ela havia se acalmado do choque que provocou a si mesma, e falava, agora sincera. É claro que sempre haveriam as milhares de coisas que ela queria falar e não poderia, quem sabe nunca. Eram águas passadas, e trazer tudo aquilo a tona não faria bem a nenhum dos dois. Então por que ligar? A voz dele talvez já fosse motivo suficiente.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Então hoje foi a primeira vez num mês que eu o vi, depois de todo o incidente. E tudo que eu vi foi um homem fraco, não um homem, mas um menino. Fraco e de olhos inchados, e talvez seja isso que ele tenha sido o tempo todo. Não é possível ver inteligência num homem que perde seu rumo. Tive que ser implacável e acredito que pela primeira vez em muitíssimo tempo fui bem sucedida nessa tarefa. Aquela dança jamais se repetirá. Não sinto pena, por que deveria? O efeito que agora me domina é raiva. O segundo dos estágios da morte. A raiva, indignação. A culpa é, de todo e qualquer modo, dele. Ele fez a merda. ELE, pos tudo a perder. Por que o que a gente tinha era ótimo. Se fosse qualquer outra pessoa talvez tivesse se rendido. E eu mesma no inicio, não me rendi? Cega como estava, tudo que ele dizia era a harmonia do meu ser. Como eu já disse pena. Pena é tudo que me resta, além da raiva mortificante.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Eu gosto das pessoas fáceis.
Isso até descobrir que as questões delas são fáceis.
Fáceis de lidar, tem poucos problemas.
O que acontece é que o que nos impulsiona são os problemas.
O inusitado e o "do contra".
No fim das contas eu olhei em volta e vi que as pessoas que ficaram marcadas pra mim, nenhuma delas era fácil. Talvez nenhuma pessoa seja. É tão difícil chegar a esse ponto de conhecimento das pessoas.
Minhas questão são tantas que eu até me contradigo.
Mas como podemos lutar pela solução de um problema, pela captação de uma visão que não existe?
Há um tempo descobri que meu olhar vê detalhes. Detalhes outrora ignorados.
Vejo detalhes nas pessoas. Mas também sei se isso é só meu ou de todo mundo. A própria convivência já é bem responsável por trazer isso a tona. Não a convivência, mas com certeza o sentimento. Quando a gente gosta, repara em cada milímetro de certo e errado. Certos e errados estes, que na verdade não possuem um valor real de certo e errado. Mas se eu for entrar nesse mérito, certos e errados já deixaram de ser certos e errados há tempo demais.
Vivo afogada de clichês desconcertados. De ver o real na irrealidade, e o irreal na realidade.
Numa ventania cansada de pensamentos novos, ao mesmo tempo tão antigos.
As vezes eu me encontro tão perdida. Nem lembro mais do que eu tinha começado a falar.
Me perguntaram que que eu quero.
Como saber o que eu quero se eu não sei ainda o que me falta. Só sei que falta.
Tem um buraco no meu peito. Tem um buraco na minha cabeça. Só não tem buraco no meu vento, que esse é constante e amigo do tempo.
Como se o tempo tivesse amigos.

terça-feira, 23 de março de 2010

Cataventos Flamejantes

Cataventos Flamejantes
noites insinuantes
frases confusas, desenhos incertos
pessoas isentas, endereços indecisos
ventos passados, fogo futuro, fátuo eterno
farsa, fingida, caminhos estranhos
fuligem feliz, fardo sensato.
insegurança plena segurança certa.