terça-feira, 30 de março de 2010
Ela ligou. Discou aquele número tão antes esquecido, que ela nunca ousou esquecer. Ousou apenas lembrar. Talvez tenha até se arrependido no segundo seguinte, mas resolveu continuar na linha. Colocou na cabeça dois firmes motivos, para explicar sua ligação, com medo eterno que sua voz trêmula estragasse tudo. Três toques e nada. Seria a hora de desistir? Ele atende, sem deixá-la desistir. Pega de surpresa, nos próprios devaneios, ela toma um susto. Fala quase que correndo, os dois motivos pelos quais ligou. Pergunta se ele está ocupado, e espera que como por mágica aquela ligação se torne uma conversa muito além do porque ligou. Ela queria que como se nada tivesse acontecido, o antigamente voltasse a tona. Certa de que sua voz já a tivesse traído, deixado escapulir a real função de tal ligação, ela se enrolou de hipocrisias, de respostas falsas, tudo para que parecesse que ela estava bem. Esbanjando na cara dele uma vida de sucessos inexistentes e penas solucionadas. Ele a conhecia bem demais pra levar tudo aquilo a sério, no entanto sabia o que era melhor pra ele. Preferiu não se envolver e de certo modo, até deu corda à coisa toda. Nenhum dos dois era mais o mesmo. Muito havia passado e eles estavam transformados. Mas mesmo com tudo, de repente eles conversavam. Ela havia se acalmado do choque que provocou a si mesma, e falava, agora sincera. É claro que sempre haveriam as milhares de coisas que ela queria falar e não poderia, quem sabe nunca. Eram águas passadas, e trazer tudo aquilo a tona não faria bem a nenhum dos dois. Então por que ligar? A voz dele talvez já fosse motivo suficiente.
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