sábado, 8 de janeiro de 2011

O homem sem sombra.

O homem andava olhando pro chão.
Não via pessoas, não via passantes, não via beleza, só via chão.
Com pés, patas, calçadas, lixo e asfalto.
Se guiava pelo chão e nunca tropeçava.
Não via sol, só via sombra.
Um dia ele se viu sem
Percebou ser translúcido.
E sem matéria, não tinha memória.
Sem memória, não tinha história.
Descobriu não ser nada, nem ao menos lembrança.
Olhou para frente e viu esperança.


Médio.

E novamente, melancolia.

Todo mundo sabe a receita da felicidade. Uma receita que nem sempre funciona, mas mesmo assim uma receita. Precisamos nos exercitar, e ter uma alimentação saudável, e ter pessoas que gostamos perto da gente, de uma casinha branca, um marido, dois filhos, um cachorro babão e um emprego.
Tá bom, não é bem assim. Não é na verdade nem um pouco assim. E é tão nem um pouco assim que isso mal serve pra ilustrar o conceito. Porque felicidade é, sim, em partes, um conceito.
A questão é que quando não se está fazendo nada, (e por nada eu digo nada) a coisa mais dificil é quebrar a inércia. E é só quebrando essa inércia que se pode chegar a algum lugar, qualquer que seja este. Ou seja, a gente sabe o que fazer, mas isso não significa que a gente vá fazer. Acho que inércia definiu tudo muito bem. é assim que eu tenho me sentindo. Uma vontade inerente de não fazer absolutamente nada. Aí começo a me culpar por não estar fazendo nada, e aí todo mundo começa a me culpar por nao estar fazendo nada. E aí eu olho em volta e está todo mundo vivendo e fazendo alguma coisa, e crescendo e progredindo, e eu meio que parei no tempo. Acho que essa chuva é a ressaca do ano passado. Eu fico aqui deitada esperando que de repente tudo fique bem de novo, mas eu já deveria ter aprendido a essa altura do campeonato que não é assim que funciona. E eu aprendi, mas parece que não importa. E nada disso importa. Nem os projetos futuros, nem os livros a ler, nem os exercícios a fazer ou mesmo o fato de estar me sentindo pra trás. Parece que tudo que eu deveria ter sentido na fossa do passado só foi ressurgir agora assim, do nada. Acho que pra se sentir mal ninguém precisa de motivo. É a coisa mais fácil a se fazer. Olhar pelo copo meio vazio. O dificil é o copo meio cheio.
Ah sim. Eu vim por meio deste assumir uma conclusão, e eu meio que perdi o fio da meada:
Conclui que o motivo de não se tomar uma atitude quando você sabe que atitude tomar é simplesmente a crença de que você não merece ser feliz. E por que alguém acharia que não merece ser feliz? Por que alguém acharia que merece ser feliz? É um pensamento depressivo, mas o fato de não fazer nada, me faz sentir um vazio, um zero: nem vivo nem morto, nem bom nem mau, então, quais são os por quês?
E como eu cansei de culpar os fatores externos, finalmente procuro a resposta em mim mesma. Eu sei que a vontade está bem ali, esperando pra voltar, mas as vezes a gente só precisa de um tempo, só precisa de nada.
Preciso fugir da média.