terça-feira, 27 de abril de 2010

Sobre sensações e recomeços.

Não sei muito sobre liberdade. Pra saber de liberdade, precisa saber de prisão, e eu nunca soube muito de prisão. Sei que a nossa liberdade vai até onde começa a do outro. Mas não é isso. As vezes a gente vive em prisões tão menores, e tão mais imperceptíveis. Aí a gente se liberta. É como um fôlego novo, um pique novo. Uma vontade de fazer alguma coisa. É quando a gente consegue finalizar uma situação sufocante. Sair dela, superar, passar pra próxima. Quando a gente percebe que existe gente lá fora além da gente. E eu andei falando muito disso nos meus ultimos textos. Da desconfiança, da descrença que eu estava de tudo e de todos. Sem saber que algumas coisas são possíveis. Decidi partir da premissa de que qualquer pessoa é absolutamente capaz de fazer qualquer coisa. Seja ruim ou boa. Surpresas.

Me apego a sentimentos, a sorrisos, a encantos, a palavras. Nada de especial, sou só mais uma na multidão.

Descobri em sentimentos bons, uma maneira de me livrar daquilo que me sufocava. Me envolvi num relacionamento com a minha própria mente. Um flerte leve que me traz um sorriso, um presente de alguém que importa. Descobri algumas das melhores coisas da vida. A expressão do meu pai quando viu minha tela, que quase arrancou uma lágrima. Coisas do cotidiano que de repente ganham uma importância fenomenal. E uma vez mais, você deixou pra trás. A vida segue como sempre seguiu, e você percebe que o fim do mundo ficou ali na esquina. Nada nunca acontece do dia pra outro. As coisas vão acontecendo lentamente sem que ninguém perceba, até chegar o dia em que explode. Tudo é meio que premeditado.
De todo modo, isso é só mais um texto pra falar o quanto é bom respirar de novo.
Fazia um tempo...

domingo, 25 de abril de 2010

Live and let learn.

A gente cresce quando perde a inocência. Não a inocência, mais a ingenuidade. Quando a gente deixa de acreditar em contos de fadas. Quando acontecem coisas com a gente.
Eu sinto falta. Sinto falta de não ter idéia. Sinto falta de não acreditar que toda pessoa que eu confio vai me virar as costas. Os ignorantes são mais felizes. A gente vai crescendo e percebe que aquilo que sabia, não sabe mais, aquilo que conhecia, não conhece mais. Que ninguém é igual a você, e não tem o menor motivo pra você acreditar que seja. Ninguém vive as mesmas coisas né. As vezes eu queria que nada tivesse acontecido, queria saber, queria conhecer. Nossas idéias não vão nunca estar certas.
É legal que não estejam. Mas também é bem ruim as vezes. Eu espero demais. Será que sou só eu? Eu levo em consideração sorrisos e olhares que me parecem sinceros.
As vezes eu entro em um colapso. Não é todo mundo que vê. Ninguém é pra todo mundo. Nem ninguém é todo mundo.
Não me arrependo. De nenhum segundo. Só me arrependo do que eu não fiz.
As vezes eu me julgo por não ter visto as coisas. Mas como poderia? Não existe mais a culpa. Agora já é depois. Não volto atrás, e lá se foi a ingenuidade. Todo dia você é diferente. As coisas mais insignificantes afetam. Mas tá tudo bem. Não é o fim do mundo. Nunca nada é nada demais. E mesmo que seja, passa. E o que resta? Você um pouco mais velho, e as pessoas que confiam em você. Não as pessoas que você confia, mas as que confiam em você. Elas podem trair sua confiança, mas nunca ouse trair a delas. Eu sou uma premissa do que eu posso ser. É tudo mais exagerado, e tudo mais insignificante. Não decepcione ninguém, nem você mesmo. Isso é mais comum, mas tem que confiar em si mesmo pra gostar de si mesmo. Situações passam, é você e você. Não desaponte quem acredita, e surpreenda quem não acredita.
As coisas vão melhorar. Você vai confiar de novo. Existe uma pessoa pra cada outra, seja irmã, prima, amiga, mãe.
Você não para de amar. Então ame a jornada. Ame a amiga, a prima, a irmã, a mãe, a tia e o pai.
Eu sei que eu amo. Muito.
Ame quem confia, confie em quem ama.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Delírios Capitais

Queria escrever um texto sobre os 50 anos de Brasília. Eu como brasiliense, afinal, amo essa cidade. Não é de momento. Brasília é de fato encantadora. Tem épocas que eu não me sinto assim, mas talvez seja mesmo devida a chegada desse tão esperado aniversário, que me traz isso à tona. A gente as vezes sente falta de ver gente na rua. Ou de cumprimentar as pessoas (aqui todo mundo passa reto, como eu já mencionei num texto anterior). O fato é que Brasília, tão cheia de defeitos, contradições como é, ainda encanta. E talvez encante até mais. Outro dia, tive que ir ao congresso, fazer minha inscrição para um concurso da câmara dos deputados, então levei um susto com a tamanha magnitude do prédio. Ao entrar você tem uma sensação extrema da sua pequenez diante de tudo. É como um paredão gigante de salas, janelas e persianas, e você não é ninguém naquilo, o que é uma coisa encantadora. Ao entrar, você depara com um labirinto de salas e pessoas engravatadas, correndo pra lá e pra cá, e até a numeração das salas não parece fazer sentido algum. Mas isso é típico Niemeyer. Talvez todos os prédios dele tem o costume de nos deixar perdidos. Até o Museu Nacional, onde você roda, roda, roda e não chega a lugar nenhum. É tudo encarpetado, ar condicionado e sem janelas. Mas não que isso seja uma crítica, eu juro que amo o Niemeyer, ele é isso aqui né. Essa cidade russa é culpa dele, sem esquecer do Lucio.
Bom, voltando a minha idéia original, queria falar de alguns sentimentos que só brasiliense tem.
E olha que não são poucos. Por exemplo, aquele sentimento que (pelo menos eu) sinto quando escuto Faroeste Caboclo da Legião. E eu sei, que legião hoje em dia é meio clichê, e que sinceramente acho que muitas pessoas não dão o valor que merece, mas eu tenho tão perfeita aquela sensação de "Saindo da rodoviária viu as luzes de Natal. Meu deus, mas que cidade linda!" que eu simplesmente não consigo entendê-las. Ou mesmo a "festa estranha com gente esquisita", quem não já foi? Ou as festas de rock da asa norte pra se libertar?
Ficar embaixo do bloco, falando merda com os amigos da escola? Ou aqueles churras, onde tudo que pode dar errado acontece? E ultimamente os próprios eventos "Esplanada Woodstock", como o porão do rock ou os showzinhos do museu? Quem não ficou triste quando nos passeios turísticos não podia subir na xícara e no píres (claro que o píres é um pouquinho mais dificil né)? Ou todo aquele jardinzinhos que são as quadras. Só passear pelas arvores já dá uma sensação gostosa. Isso com os dias de clube, os dia de nicolândia (que nunca vai perder as forças), piqueniques no parque da cidade. Isso porque até agora eu nem mencionei a UnB. Nossa, eu amo a UnB de todo coração, e isso é uma hora complicada pra falar, devido a greve. mas a UnB me tem na mão. Só de ir pra lá de manhã eu já começo o dia mais feliz. E o céu. O céu mais bonito do mundo, talvez seja.
Já passei por tanta coisa nessa cidade. As vezes falta muita coisa aqui. Falta transporte público, falta olá, falta hétero, falta área. Mas em compensação, uma vez que você vê, Brasília sempre vai ser Brasília. Essa cidadezinha organizada, ilhada, que já trouxe tanta coisa pra tanta gente.
E hoje é um dia muito bom, pra falar de corrupção. Até porque a culpa é nossa, e não da cidade.
Brasília encanta aos poucos. Tem que aprender a sentir. Tem que degustar com paladares refinados. Não sei expressar, mas tem tanta coisa que só brasiliense entende. É um sentimento assim, meio caloroso. É saber o funcionamento de tudo e não ficar com raiva, é encontrar as mesmas pessoas nas mesmas festas e um dia conhecer uma pessoa que você achava que era de um jeito e te surpreende por completo.São as pontes do parque numa bicicleta. É o tobogã num dia de sol com seu pai e um sorvete. É festa junina com algodão doce. É, acima de tudo, casa.
É o efêmero constante de uma geração latejante.

domingo, 18 de abril de 2010

Bom convívio social?

Surpresas não acontecem todo dia. Se acontecessem, é claro, não seriam surpresas. As surpresas, tanto as boas quanto as ruins acontecem quando a gente menos espera. e disso são feitos os grandes dias. De todo modo, não vim aqui falar de um grande dia. Vim falar de um bom dia comum.
De um tempo pra cá, eu meio que vinha perdendo a fé. Desilusão ataca de vez em quando, e eu não tenho muito o que responder. Me sinto meio que nem na música, "qualquer coisa que se sinta, tem tanto sentimento deve ter algum que sirva". Fazia tempo que eu não conseguia conversar com estranhos. O negócio é que eu nunca mais havia esperado conhecer nenhuma pessoa que valesse, por causa de decepções recentes (nem tanto). Na verdade talvez isso só seja uma pequena parcela do problema real, que é a minha incapacidade de conhecer pessoas novas. Não que seja bem uma incapacidade. Como eu já disse anteriormente, eu meio que me fechei pra coisa toda, além do que eu não tenho mesmo uma facilidade pra conversar com pessoas que mal conheço. Por exemplo, pra "puxar assunto", nossa, me enterrem viva três vezes antes de me fazer "puxar assunto".
A tal da surpresa de ontem, enfim, foi exatamente saber que talvez isso não seja um problema. Ou melhor, que eu não tenho esse problema. Acho que talvez mesmo pra simplesmente conversar com uma pessoa qualquer, você precise de uma certa ligação. Uma certa conexão. Pelo menos pra mim, veja bem, minhas amigas são pessoas extremamente sociáveis, e não é minha culpa me sentir meio defasada nesse sentido. Conseguir manter uma conversa interessante parece as vezes uma tarefa impossível, e eu não entendo bem como pra algumas pessoas pode ser tão fácil.
Outro problema, quando já formada a ligação, no caso para mim, é calar a boca. O negocio é que na minha condição de mulher, ou talvez só na minha condição de Samantha, eu me contradigo demais, então quando consigo falar, falo demais. E não só falo demais, como paro de perceber do que eu estou falando então falo besteira atrás de besteira, e assim, fica quase impossível de não assustar as pessoas. Quanto melhor a imagem que a gente tenta passar, mais a gente se enrola.
Me disseram uma vez, que eu não parecia ligar pra pra nada, e como será que eu conseguia viver desse jeito. Isso é um ótimo exemplo de eu tentando passar uma mensagem e agindo e um jeito e as pessoas entendendo de outro. Eu me importo com as coisas até demais. Ninguém se conhece sem tempo. As pessoas podem se gostar em pouco tempo, mas nunca se conhecer em pouco tempo. Queria mesmo era parar de assustar as pessoas do mundo la fora com esses meus jeitos.
As vezes eu sou pessoal demais, mas também não sei como não ser. E parece que tudo que a gente faz é socialmente inaceitável.
Vim só dizer que ontem consegui manter conversas, com pessoas que valiam. E que minha noite acabou sendo bem bacana. E que ainda escrevo o "Manual da boa conduta social" Porque sabe como é, quem não sabe fazer ensina. No fim das contas eu devo estar enferrujada. Trocar pessoas por telas não pode fazer muito bem.

domingo, 11 de abril de 2010

Have you ever dreamed of flying?


"Have you ever dreamed of flying?"
Me deparei com essa pergunta uma vez num filme. O nome do filme era Mr. Jones, e contava a história de um doente mental, esquizofrênico, cuja realidade inventada era muito mais real que a vida fora.
É claro que aqui eu poderia começar a discutir as milhares relações entre real e abstrato, entre ignorância e fato, e entre a nossa realidade e a dos outros. Mas não vim falar disso. Vim falar dessa pergunta: "Você já sonhou que voava?". O personagem principal, interpretado por Richard Gere (que eu sinceramente acredito já ter nascido de cabelos brancos), pergunta isso para sua médica, e ela responde: Quando criança, acho. Por que?
E essa e facilmente compreendida como a resposta da maioria das pessoas. Por que?
Talvez porque quando criança a facilidade de isso se tornar verdade é maior. Existe no sonho do vôo a sinceridade e a entrega de um sonho de criança. De uma liberdade incondicional, que parece não só possível, mas real. Adultos são mais pé-no-chão, e essa expressão não é a toa. Sabendo das conseqüências, das possibilidades reais de uma vida factual, perdemos o sonho.
O personagem, no filme, tinha uma constante necessidade de cometer quase um suicídio, pular do topo de casas. E sempre acabava sendo impedido. A sensação de pular não é algo que experimentamos com muita freqüência, mas sempre se torna algo a ser lembrado. O estar completamente solto no ar, sem depender de nada, ninguém e nem de você mesmo. Como quando pulamos para um lago, ou por exemplo no escorregador "Insano", do beach park, em Fortaleza. Sensação unica de liberdade, de independência, das mãos do destino e de mais ninguém.
Ontem sonhei que voava. O que talvez signifique que a minha criança interior ainda está viva. Bom, espero sinceramente que ela nunca morra. Mas foi tão real o sonho. Voei daqui pra Recife, e voei sozinha, não podia contar a ninguém que eu podia fazer isso. Uma delícia de vôo.
O negócio, é manter viva a criança que há na gente. Continuar voando, e acreditando, que, quanto menos acreditarmos num mundo cinza, menos viveremos uma viva cinza. São as cores que nos mantém acesos, afinal de contas.

domingo, 4 de abril de 2010

A respeito da efemeridade do amor.

Passando o feriado da Páscoa em casa, preparando telas, foi no banho que a seguinte idéia me veio a cabeça. Antigamente eu costumava pensar, que só um tipo de amor era realmente possível. Via o amor como algo eterno, nada passageiro, nada efêmero, absolutamente concreto. O único que eu via como realmente possível, portanto era o amor de mãe, inacabável, inatingível, inalterável. Por isso eu sonho, até hoje, em ser mãe. Acho também, e esqueci de dizer até agora que se existe uma razão de por que viver, por que estamos no planeta, porque até precisamos pensar em tais por ques, essa razão é unica e simplesmente o amor. O que me torna, querendo ou não, uma romântica, mas eu acredito piamente que tudo se explica nisso.
Enfim, eu pretendia chegar a algum lugar com esse texto. É o seguinte: eu descobri que o amor é sim, possível, sem ser apenas o amor de mãe. A gente sempre vê isso, mas nunca enxerga de verdade. Descobri algumas pessoas que amei, e que mesmo que tudo tenha mudado e hoje em dia um retorno seja impossível, eu continuo amando até hoje. Descobri o quanto eu amo meus amigos. Descobri o quanto eu amo o que eu faço. E embora singularmente falando apenas um desses não seja o suficiente para sustentar todas as explicações para as dúvidas mencionadas mais cedo, os meus amores coexistem, me tornando completa. Amor não acaba mesmo, é sim, eterno. Mas a gente se esquece que essa eternidade significa apenas que ficou no passado. E ficando no passado, tomando lugar na sua história e no seu coração, ele dura para sempre. Não sei bem se consegui me explicar, mas é mais ou menos isso.
Não é um só amor, mas são tantos, e nem sempre correspondidos. Muitas vezes a gente ama só. A gente ama um sorriso, um gesto, uma palavra, uma voz, um relacionamento que se perdeu.
Amor é eterno, mas é também efêmero, e acaba, mas quando acaba fica, de sua própria maneira registrada na gente. E isso que faz tudo valer a pena. A gente precisa de uma certa distancia, pra enxergar as coisas como realmente são.
Nosso coração acaba se tornando um livro de contos, e a gente o porta-voz. Contos que acabam, ou continuam, e depende apenas da gente fazê-los valer a pena ouvir.