quarta-feira, 31 de março de 2010

Divagações Noturnas

Ontem chafurdei minha cabeça de novos pensamentos não exatamente novos. Achei que devia escrever aqui antes que tudo se perdesse como numa nuvem de fumaça, e pelo menos para mim, dotada de memória absurdamente fraca, deixassem o plano das idéias como se nunca tivessem nem chegado perto de acontecer. Pensei nos rumos da arte hoje em dia, como passou para o abstrato das nossas mentes, no lugar do real da natureza. Ou mesmo o irreal da natureza. De uma pintura representativa simbolista, de Tim Burton, de fantasias e efeitos. De que o que se passa dentro da nossa cabeça as vezes vale muito mais do que se passa fora e as infindáveis maneiras de trazer esses pensamentos a tona, e fazê-los ganhar relevância diante de um grande público por diversas maneiras, como encantamento, ou choque. Pensei em descobrir qual o meu estilo representativo, o que é que eu gosto de fazer, e o que me traz prazer numa pintura.
Pensei também, (esses pensamentos foram bem mais claros) no esforço que a gente faz pra ser mais um na multidão. Isso por que ontem fui ao show do Lafusa, Velhos e Usados e Cassino Supernova (aliás, parabéns às bandas pelas ótimas apresentações) no Sesc Garagem na 913 sul. Me deparei com a seguinte situação: como eu já disse, uns shows ótimos, mas como lugar exerce em sua quase totalidade a função de teatro, um monte de cadeiras. E isso pra mim foi completamente estranho, por que por mim, eu estaria dançando loucamente na frente do palco. Peloamordedeus, não era uma orquestra sinfônica, né, tinha tudo pra se dançar. Menos, é claro as pessoas dançando. Um longo espaço da platéia ao palco, com ninguém dançando. No máximo uma pessoa aqui e outra ali batendo o pé. Não achei aquilo nem um pouco natural, e me esforçava de um todo pra ficar lá sentada. Talvez o distanciamento do próprio povo brasiliense, que, sem querer ofender, as vezes parece ter medo de gente. Tá, isso não tá nem um pouco claro, mas eu só queria dizer, que as vezes a gente se esforça tanto pra ser que nem todo mundo, e não tem motivo pra isso. Vergonha, intimismo, são completamente desnecessários em algumas ocasiões. O que voce se sente mais confortável fazendo? O que você quer fazer, em cada momento. Se policiar pra ser que nem todo mundo? As vezes não seria muito mais fácil só ser você mesmo?
E nesses pensamentos e discussões, acabei não sei como entrando na questão das pessoas que não dão espaço às bandas autorais e como isso não faz sentido algum na minha cabeça, pelo menos. A gente vive reclamando, que o Brasil não tem banda boa, e blablabla, quando na verdade tudo que falta para o sucesso dessas é o apoio de algumas pessoas que simplesmente se recusam a abrir a cabeça pras novidades. Mesmo antes do show do Franz ferdinand, ouvi de várias pessoas: ah, chegar antes pra ouvir bandinha autoral de merda, eu hein?
A gente precisa da mídia pra dizer se uma banda é boa ou não? Vamo lá, pessoal, que a mídia já errou bastante. E as vezes os shows das "bandinhas autorais de merda" dão de mil em qualquer outra coisa que a mídia tenha empurrado... Ou vcs querem passar o resto da vida vendo showzinho cover? Cover não acrescenta nada.
Até algumas bandas que já estão na estrada há um tempo, que são muito boas e não conseguem deslanchar. É uma injustiça e eu culpo o público.
Outra coisa sobre o povo brasiliense. De verdade, se você já foi apresentado à pessoa mais de uma vez, falar um "oi" quando encontrar ela na rua não dói, e não mata ninguém. Todo mundo finge que não se conhece, tem preguiça de falar com as pessoas e coisa e tal. Depois falam que o povo brasiliense é antipático e ninguém sabe porque. Tirem o nojinho da cara, peloamordedeus. Eu, pelo menos cansei.
Tá bom que esse post já tá ficando nervoso e sincero demais. Melhor ir-me indo por aí antes que eu me arrependa e comece a editar.

terça-feira, 30 de março de 2010

Ela ligou. Discou aquele número tão antes esquecido, que ela nunca ousou esquecer. Ousou apenas lembrar. Talvez tenha até se arrependido no segundo seguinte, mas resolveu continuar na linha. Colocou na cabeça dois firmes motivos, para explicar sua ligação, com medo eterno que sua voz trêmula estragasse tudo. Três toques e nada. Seria a hora de desistir? Ele atende, sem deixá-la desistir. Pega de surpresa, nos próprios devaneios, ela toma um susto. Fala quase que correndo, os dois motivos pelos quais ligou. Pergunta se ele está ocupado, e espera que como por mágica aquela ligação se torne uma conversa muito além do porque ligou. Ela queria que como se nada tivesse acontecido, o antigamente voltasse a tona. Certa de que sua voz já a tivesse traído, deixado escapulir a real função de tal ligação, ela se enrolou de hipocrisias, de respostas falsas, tudo para que parecesse que ela estava bem. Esbanjando na cara dele uma vida de sucessos inexistentes e penas solucionadas. Ele a conhecia bem demais pra levar tudo aquilo a sério, no entanto sabia o que era melhor pra ele. Preferiu não se envolver e de certo modo, até deu corda à coisa toda. Nenhum dos dois era mais o mesmo. Muito havia passado e eles estavam transformados. Mas mesmo com tudo, de repente eles conversavam. Ela havia se acalmado do choque que provocou a si mesma, e falava, agora sincera. É claro que sempre haveriam as milhares de coisas que ela queria falar e não poderia, quem sabe nunca. Eram águas passadas, e trazer tudo aquilo a tona não faria bem a nenhum dos dois. Então por que ligar? A voz dele talvez já fosse motivo suficiente.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Então hoje foi a primeira vez num mês que eu o vi, depois de todo o incidente. E tudo que eu vi foi um homem fraco, não um homem, mas um menino. Fraco e de olhos inchados, e talvez seja isso que ele tenha sido o tempo todo. Não é possível ver inteligência num homem que perde seu rumo. Tive que ser implacável e acredito que pela primeira vez em muitíssimo tempo fui bem sucedida nessa tarefa. Aquela dança jamais se repetirá. Não sinto pena, por que deveria? O efeito que agora me domina é raiva. O segundo dos estágios da morte. A raiva, indignação. A culpa é, de todo e qualquer modo, dele. Ele fez a merda. ELE, pos tudo a perder. Por que o que a gente tinha era ótimo. Se fosse qualquer outra pessoa talvez tivesse se rendido. E eu mesma no inicio, não me rendi? Cega como estava, tudo que ele dizia era a harmonia do meu ser. Como eu já disse pena. Pena é tudo que me resta, além da raiva mortificante.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Eu gosto das pessoas fáceis.
Isso até descobrir que as questões delas são fáceis.
Fáceis de lidar, tem poucos problemas.
O que acontece é que o que nos impulsiona são os problemas.
O inusitado e o "do contra".
No fim das contas eu olhei em volta e vi que as pessoas que ficaram marcadas pra mim, nenhuma delas era fácil. Talvez nenhuma pessoa seja. É tão difícil chegar a esse ponto de conhecimento das pessoas.
Minhas questão são tantas que eu até me contradigo.
Mas como podemos lutar pela solução de um problema, pela captação de uma visão que não existe?
Há um tempo descobri que meu olhar vê detalhes. Detalhes outrora ignorados.
Vejo detalhes nas pessoas. Mas também sei se isso é só meu ou de todo mundo. A própria convivência já é bem responsável por trazer isso a tona. Não a convivência, mas com certeza o sentimento. Quando a gente gosta, repara em cada milímetro de certo e errado. Certos e errados estes, que na verdade não possuem um valor real de certo e errado. Mas se eu for entrar nesse mérito, certos e errados já deixaram de ser certos e errados há tempo demais.
Vivo afogada de clichês desconcertados. De ver o real na irrealidade, e o irreal na realidade.
Numa ventania cansada de pensamentos novos, ao mesmo tempo tão antigos.
As vezes eu me encontro tão perdida. Nem lembro mais do que eu tinha começado a falar.
Me perguntaram que que eu quero.
Como saber o que eu quero se eu não sei ainda o que me falta. Só sei que falta.
Tem um buraco no meu peito. Tem um buraco na minha cabeça. Só não tem buraco no meu vento, que esse é constante e amigo do tempo.
Como se o tempo tivesse amigos.

terça-feira, 23 de março de 2010

Cataventos Flamejantes

Cataventos Flamejantes
noites insinuantes
frases confusas, desenhos incertos
pessoas isentas, endereços indecisos
ventos passados, fogo futuro, fátuo eterno
farsa, fingida, caminhos estranhos
fuligem feliz, fardo sensato.
insegurança plena segurança certa.