De certa
forma desconexa - uma cabeça e um corpo, nada mais - sinto saudade, sinto
vergonha, sinto muito, e as vezes sinto nada. Um turbilhão de coisas que vem a
tona, e desaparecem, um naufrágio de sensações que borbulham num corpo. Um tudo
e um nada, viro praticamente um quase lá. Cansei da vida em meios termos,
cansei de me sentir à parte. De virar um vicio, de descobrir um sentimento
depois da hora. Preferiria que fosse óbvio, que me batesse logo de vez na cara.
Nessa distância toda eu senti uma falta, senti que dentro de mim não tinha mais
nada. Ficou um buraco tão grande, que muitas vezes ainda luto pra preencher.
Não quero espaço. Não agora. Pode me sufocar se quiser. Quero explodir em cor,
que a vida em branco e pastel também precisa de um descanso. Quero que me
atinja como uma faca no rosto, que me puxe e me revele. Que não poupe em
sentimentos, que não poupe em palavras. Escolhi, sim. Quero que tome conta de
mim, e quero que não tenha mais volta. Que a dormência que passou em mim tanto
tempo vá de vez embora. Quero que me chame de maluca, quero que diga que não
faço sentido algum, mas nunca, não tão cedo quero ir embora. Desta vez quero
ficar, quero aprender, quero rir e quero chorar. Com força, e de verdade. Tome
conta de mim e me envolva, que eu quero amor, e não silêncio. Estou farta. Vejo
crescer uma ânsia, uma ira, uma fúria sem razão. Cansei de me domar. Cansei por
um pouco de não falar. Quero de uma vez por todas conquistar e quero que me
deixe assim ser, livre e sem me tomar conta, Louca e nova e renovada. Que se
era preciso um retiro, desta vez não quero, quero amar apenas, e não fazer
sentido algum. Eu escolhi sim. E amo sentir que posso em muito tempo finalmente
abandonar a escuridão que me cercava. Quero construir e quero criar. A vontade
é muita, mas a solidão é difícil também de se abandonar. Quero sentir, sobretudo
e acima de tudo. Quero saber, e ter certeza de cada passo. Quero sentir casa porque casa
é um sentimento. O barulho vai tomar conta, o silêncio talvez reine ainda.
Uma vez
ofereci um dia branco e obtive um não como resposta. Quero no mínimo uma
aquarela, agora que concordo. Não é um dia branco que quero também. Muito menos
um dia escuro. Mas insisto num mínimo de cor. O suficiente pra fazer o dia
fugir do nada. Bom, o pouco que me resta então - ofereço agora se você quiser e
vier pro que der e vier, comigo.