sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Mistério do planeta.

Então outro dia entrei em crise com a minha arte. E eu sei que não devia ainda pensar nessas coisas, de como vou sobreviver, e como vou ganhar dinheiro e não da pra viver de edital e pa e pá. Mas querendo ou não, não tem como escapar de tudo isso. A maioria das pessoas que eu converso aqui e ali, e uma parte de mim também, sempre diz que tudo vai acabar se resolvendo e que não tem porque gastar tempo precioso se atormentando por conta disso. Por que nada mais é do que tormenta. Não tenho respostas e francamente nem sei se quero ter, mas como estou obstinada a viver de um ramo tão inseguro, não posso deixar de me preocupar. Li no On the road, que sobreviver é fácil. Sobreviver a gente consegue, com qualquer coisa. Mas e quanto a viver? O que eu quero viver? O que eu quero fazer? E agora, qual o próximo plano? Essas sempre são as coisas mais difíceis. E se eu não conseguir atingir as metas que estou colocando para mim mesma? Talvez não tenha problema, e no caso, talvez seja até melhor, eu sei. Eu sei de todas as variáveis dessas hipóteses que passeiam aqui e ali pela minha cabeça. Eu já pensei nisso, nisso e naquilo tudo que você puder imaginar. Mas ainda assim não acho conforto e muito menos reconforto. O negócio, como sempre, é desistir e deixar acontecer, até que isso volte a me perturbar, e acredite, vai voltar.
Mas eu não vim aqui pra falar disso. Eu vim falar de mil coisas. Mil outras inquietudes com a minha arte, e isso é bem diferente do que eu estava falando antes. Num outro dia, estava eu numa rodinha, com a minha cabeça já chafurdando nesse tipo de coisa, até começarem as discussões típicas (e por que não trágicas?) de o que é arte e etc e tal. O que torna uma pessoa artista e outra não, pra que serve arte, se você faz arte o que fazer com esta, o que dizer com esta, pra quê dizer com esta. E nisso tudo a mente viajava quase num caminho sem fim e sem volta. Um caminho sem volta que aceitei percorrer há uns tempos, mas que até hoje estou lidando com suas consequências. A gente pode ver o artista pelo lado técnico e emocional, como pelo conceitual e objetivo/prático. Deusmelivre de pensar nessas coisas, que pelamordedeus, eu estou de férias. Já deu disso até durante o período de aulas. Como pensar com a sociedade, como fazer algo para a sociedade, como tirar as galerias das elites, arte de rua e tudo o mais.
É bem fácil entrar em parafuso. E no meio disso tudo de apanhado de coisas, discussões de apanhados de coisas, novos baianos de trilha sonora e um porco tatuado, ouvi um monte de coisas válidas, um monte de coisas nem tão válidas assim, um monte de porcaria, e um monte de coisas engraçadas.
Mas no meio desse monte de perguntas eu sempre acabo me perguntando o por que de ficar se perguntando essas coisas o tempo todo. Querendo ou não eu sempre acho que o fato da gente se preocupar com esse tipo de coisa já é um diferencial daqueles que simplesmente fazem por fazer. E no fim das contas acaba sendo assim mesmo. O conjunto de reações que uma pessoa tem quando vê, ou ouve uma obra de arte pela primeira vez que eu classifico como: 1- a reação imediata, o que a pessoa sente sem fatores determinantes exteriores à obra. 2- o momento que ela pensa: mas e o que o artista quis dizer com isso; e 3-o momento em que a pessoa escava a mente atrás de referencias pra poder relacionar com o trabalho do cara;
Além disso, como fazer que o que a pessoa absorva da obra seja exatamente aquilo que você pensou inicialmente? Impossível. E as vezes as outras pessoas ainda enxergam além do que você, que fez, viu. O sentimento e o estado emocional que a pessoa está, e as expêriencias anteriores de vida que ela vai utilizar para se identificar com a obra, que pode ser uma coisa imediata ou não. Será que as pessoas só se relacionam com aquilo que se identificam? Ou não, talvez elas se identificam com aquilo que não são, mas anseiam pelo menos um pouquinho por ser? E qual a importancia disso tudo. Buscar na arte a solução para as inquietações nossas, e esperar que as inquietações não fossem à principio só nossas? Egoísmo na arte. A arte é puramente egoista, pois parte de cada ser humano, não do coletivo, mas do individual. Só pensar na busca de uma solução já seria nesse caso o diferencial, já que a maioria das pessoas, como podemos facilmente ver exemplificado na musica pop que a indústria nos joga na cara, não se preocupa em dar uma solução para o problema, mas apenas a cara do problema, mas para você se identificar, não para superar ou solucionar, ou no mínimo pensar um pouco mais a respeito, pois não passa daquilo que está ali.
Eu disse que na música falta tempo, pra conseguir evocar esse tipo de solução, e que na música erudita, por exemplo, é muito mais fácil enxergar esse tipo de coisa, pois havia tempo para solucionar o problema. Não eram dois minutos e meio de chorar as mágoas, mas bem dizer vinte onde você se acha e perde e acha de novo.
e de novo eu me perdi e nem eram essas coisas que eu queria dizer. Queria falar sobre o frágil no pesado, que é mais ou menos minha proposta futura de trabalho, uma vez que passei a me encontrar nos meus objetos humanos.
"Vou mostrando como sou e vou sendo como posso; Jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos e pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto e passo aos olhos nus ou vestidos de lunetas; passado presente participo sendo o mistério do planeta."
Vou deixar vocês hoje com mistério do planeta na cabeça, pois aqui e ali eu acho que todo mundo tem que se viciar um tiquinho em novos baianos. E jogar o corpo no mundo pois é só assim que a gente aprende alguma coisa.
Chega de medo e insegurança. As vezes temos só que fazer, e todo o resto do processo vira tão natural, tanto da produção quanto à reação do espectador. Natural e simples, daquilo tipo que chega sempre sorrateiro, e quando você vê já valeu toda a experiência.

3 comentários:

  1. Esse teu texto me fez bem, me fez lembrar Huberto Rohden. Em "Filosofia da Arte" ele diz que "as obras artísticas são as representações finitas do infinito". Foi um dos melhores livros que já li, me deu muitas respostas. Quanto à parte financeira, o que eu aprendi até agora foi que pra negociar o produto artístico é preciso saber exatamente quanto ele vale e saber conjugar a negociação com vários outros produtos artísticos relacionados. Quer dizer, criar uma cena artística em volta de estéticas que já dialogam naturalmente é mais eficaz do que divulgar apenas o próprio trabalho.

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  2. E aí, garota.
    Gostei do texto. Discordo de algumas partes, no entanto. Mas é mais porque a minha experiência pessoal me faz discordar. Basicamente eu acho que é super pertinente discutir esses temas metafísicos por várias razões mas duas principais. A primeira é que acredito que todo pensamento valha a pena. Veja você que buscar respostas, definições, bem, essa busca é antes de tudo uma reflexão e acredito, pessoalmente, que a paz de espírito está conjugada e intimamente ligada ao auto conhecimento. Então essa é a lógica: como saber se você gosta de tal comida (ou seja descobrir mais uma face de si mesmo) sem nunca experimentá-la? Da mesma forma, sempre evitar reflexões por sua complexidade é se reduzir ao não descobrimento de si mesmo. Como vc vai saber o que realmente acha e pensa sobre arte se tem medo, preguiça ou descrença de se aventurar nessa temática? Concordo muito quando você diz (pelo menos implícitamente) que o debate não é o meio apropriado para descobrir como seu ser se comporta frente a definição da arte. No entanto o debate é uma parte de um todo. Pra mim, pelo menos quando eu me aventurei por essa temática, o primeiro passo é tentar descobrir uma conclusão individual baseada na reflexão e pesquisa. Ou seja, quando fui pensar sobre arte passei sobre a concepção de arte dos antigos, medievos, passei pelas inúmeras correntes que permearam a história, derrubei minhas concepções de beleza, de feiura, de subjetivo, descobri o que era arte pra filósofos como schopenhauer, por exemplo, tentei derrubar essas concepções, até me aproximar o maior possível de um conjunto de argumentos que não conseguia derrubar. Só então, munido desse complexo de pensamentos filtrados depois de madura reflexão é que vem o debate. Somos infinitos, como você colocou, mas não somos perfeitos, o debate é justamente a hora em que você colocará a prova os argumentos que você sozinha não conseguiu derrubar. Essa é a segunda razão: na madura reflexão, o que você lê e pesquisa é de um nível tão intenso que muitas vees você termina uma jornada como essa como uma nova pessoa, deixando para trás muitos, se não todas as antigas concepções inabaláveis.
    acho que é mais ou menos por aí.
    Bem, depois agente senta num bar e eu te conto o que foi que eu concluí
    hahaha

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